Justiça
Xuxas papaia com coca
O comerciante Gurvinder Singh garantiu que desconhecia que paletes da fruta importada do Brasil serviam para transportar a cocaína do tráfico imputado a Rúben Oliveira (“Xuxas”), que começou hoje a ser julgado.
O arguido Gurvinder Singh falava na primeira sessão de julgamento do processo de tráfico de droga agravado, associação criminosa e branqueamento de capitais que envolve 16 arguidos singulares e três empresas, num esquema alegadamente liderado por Rúben Oliveira (conhecido como “Xuxas”) para traficar cocaína vinda da América Latina.
Gurvinder Singh, que foi um dos dois arguidos a querer prestar declarações nesta primeira sessão de julgamento, assegurou que só soube que a importação de fruta do Brasil servia para encobrir a droga quando foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) em 14 de fevereiro de 2022, pois até lá “não tinha conhecimento que as papaias traziam a cocaína”, assim como a polpa de açaí que também era importada.
O arguido respondia após ter sido questionado pela juíza presidente Filipa Araújo sobre se não desconfiou que a importação da fruta encobria o tráfico de cocaína, uma dúvida sobre o grau de responsabilidade de Gurvinder Singh que foi também manifestada pela procuradora no processo, que confrontou o comerciante com atos por este praticados e documentação do processo.
Gurvinder Singh manteve sempre a sua versão, esclarecendo que muitos dos pagamentos relacionados com a importação e transporte da fruta foram pagos por outros arguidos, designadamente por Luís Ferreira (“Ari”) e José Cabral, que lhe adiantou 150 euros em dinheiro para que fosse alugada uma carrinha que iria buscar um carregamento de papaias que tinha chegado ao aeroporto de Lisboa.
Durante a sessão, o arguido foi confrontado com fotos de vigilância da PJ, conversas mantidas com outros arguidos nas redes sociais WhatsApp e Signal e documentação ligada à importação da fruta, que Gurvinder Singh alegou ter conseguido escoar e revender por fregueses e outros comerciantes de Lisboa.
Antes, Gurvinder Singh, cidadão português, relatou que conheceu primeiro Rúben Oliveira, que costumava ir fazer compras à sua loja nos Olivais e que lhe apresentou, em 2021, Luís Ferreira (conhecido por “Ari”).
O comerciante contou que “Ari” lhe propôs o negócio de importar fruta do estrangeiro “a preços muito mais baixos em relação ao mercado” português. Admitiu que, apesar de ser o gerente da loja, passou a ser Luís Ferreira (“Ari”) a estar na posse de “todos os dados da empresa” comercial para importar fruta indicando que foi “Ari” que chegou a pagar diretamente às alfândegas e a “tratar de tudo”.
Também o arguido William Cruz prestou hoje declarações para negar que tivesse sido o “batedor” e o “vigia” no negócio do transporte e comércio da cocaína.
Segundo a acusação, o grupo criminoso, liderado por Rúben Oliveira, tinha “ligações estreitas” com organizações de narcotráfico do Brasil e da Colômbia e desde meados de 2019 importava elevadas quantidades de cocaína da América do Sul.
A organização chefiada por “Xuxas” tinha – ainda de acordo com a acusação – ramificações em diferentes estruturas logísticas em Portugal, nomeadamente junto dos portos marítimos de Setúbal e Leixões e no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, permitindo assim utilizar a sua influência para importar grandes quantidades de cocaína escapando a fiscalização.
Naqueles locais de desembarque, a PJ realizou apreensões de cocaína que envolvem arguidos que supostamente obedeciam a ordens de Rúben Oliveira. A cocaína era introduzida em Portugal através de empresas importadoras de frutas e de outros bens alimentares e não alimentares, fazendo uso de contentores marítimos. A droga entrava também em malas de viagem por via aérea desde o Brasil até Portugal.
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