Região
Xavier Viegas defende mais envolvimento das comunidades de “Aldeia Segura”
O investigador Domingos Xavier Viegas defendeu hoje um maior envolvimento e trabalho com as comunidades no programa “Aldeia Segura, Pessoas Seguras”, de forma a capacitar os habitantes a lidar com os incêndios florestais.
“No acompanhamento que tenho feito ao longo de vários anos do programa, verifico que a sua aplicação tem sido um pouco de cima para baixo, em que as pessoas se interessam que fiquem salvaguardadas alguns indicadores, mas creio que não se vai ao fundo do que se exigia, que era trabalhar junto das pessoas”, sustentou.
O diretor do Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais, que intervinha hoje de manhã no seminário “EvacuarFloresta”, no polo II da Universidade de Coimbra (UC), sublinhou que é preciso mentalizar as pessoas das aldeias da responsabilidade que têm e daquilo que devem fazer.
Apesar de considerar o programa “Aldeias Seguras, Pessoas Seguras” uma excelente iniciativa governamental, Xavier Viegas considerou que o mais importante é trabalhar com as pessoas da comunidade para as “treinar e ensinar a enfrentar os fogos”.
“É bom que haja um oficial de segurança, toda esta sinalética, planos e projetos, mas criar comunidades resistentes aos fogos implica também que trabalhem umas com as outras e criem vizinhança”, acrescentou.
Segundo o investigador, em programas semelhantes noutros países “trabalha-se muito mais com as comunidades, não tanto pelo número, mas através de um trabalho de base, que depois se vai alargando”.
“O nosso Governo olha muito para a estatística – se havia quinhentas, mil, duas mil ou três mil [aldeias] – algumas escolhidas sem grande critério, sem definir bem as prioridades, e o que se via era que o trabalho feito era um pouco superficial”, frisou.
Xavier Viegas salientou que Portugal já possui muito conhecimento e pessoas com formação na área dos incêndios florestais para trabalhar com as comunidades, mas que as autoridades continuam a não aproveitar essa capacidade criada pelos projetos de investigação.
O diretor do Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais apelou às autoridades nacionais, regionais e locais “para aproveitarem melhor estas capacidades criadas pelos projetos de investigação e o conhecimento, para irem formando pessoas nas próprias aldeias”.
Na sua intervenção, intitulada “Em caso de incêndio, o que fazer?”, o especialista não preconizou “regras gerais” de atuação, salientando que acima de tudo a prioridade tem de ser a preservação da vida humana.
“Se houver uma decisão para retirar, deve ser cumprida, mesmo que isso tenha consequências, mas reconheço que há situações em que não haverá essa necessidade e se as coisas forem devidamente ponderadas pode-se evitar perdas e danos”, disse.
O seminário “Decisões e Planos de Evacuação em Cenários de Incêndio Rural” apresentou as conclusões do projeto “EvacuarFloresta”, desenvolvido pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, iniciado há quatro anos.
“É um projeto que, apesar de académico, foi muito direcionado e trabalhado com as populações que podem vir a ser afetadas pelos incêndios rurais”, disse à agência Lusa a coordenadora Aldina Santiago.
Numa fase inicial, o programa estudou legislação e bibliografia sobre o que existe em Portugal e noutros países também afetados pelos incêndios florestais, tendo posteriormente trabalhado com algumas localidades nos concelhos de Lousã e Miranda do Corvo (distrito de Coimbra) e Sertã (Castelo Branco).
A ideia do projeto passa por auxiliar as autoridades e as localidades nas tomadas de decisões em casos de incêndios florestais, pelo que, segundo Aldina Santiago, “ao longo do projeto foi sendo transmitido todo o conhecimento e as conclusões obtidas às autoridades, que estiveram sempre envolvidas”.
O seminário “Decisões e Planos de Evacuação em Cenários de Incêndio Rural” termina no sábado, com um simulacro de evacuação da aldeia de Ribeira da Misarela, no concelho de Coimbra.
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