Região

Vitimas da tragédia dos incêndios continuam a recorrer a apoio médico na área da saúde mental

Notícias de Coimbra | 6 meses atrás em 09-06-2024

 Sete anos depois dos incêndios de 17 de junho em Pedrógão Grande, que vitimaram 66 pessoas, as marcas ainda subsistem nas populações afetadas, que continuam a recorrer a apoio médico na área da saúde mental.

“A procura de apoio estabilizou, mas as pessoas continuam a vir aos cuidados de saúde mental, na sua maioria para manter a medicação que já fazem”, disse à agência Lusa a médica psiquiátrica Ana Araújo, coordenadora da unidade de saúde mental comunitária de Leiria Norte, com sede em Figueiró dos Vinhos, no distrito de Leiria.

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As recordações do “inferno” vivido em 2017 que afetou mais gravemente os concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos vinhos ficam mais presentes próximo da data dos fatídicos incêndios e, sempre que o som da sirene dos bombeiros se propaga pelos montes e vales do território, o coração dos habitantes inquieta-se.

Salientando que os estádios da situação são diferentes de há sete anos, Ana Araújo refere que o luto em situações como esta é para sempre e que, esporadicamente, ainda aparecem pessoas que não reconheciam padecer de stress traumático dos incêndios, que estava escondido e de repente manifestou-se.

A forma de lidar com o luto varia de pessoa para pessoa e, segundo Ana Araújo, existem as que querem “respirar fundo e seguir em frente e que entendem que eventos marcantes sobre o que se passou não ajuda a progredir para o futuro, e, depois, temos aquelas que precisam dessas iniciativas para viver”.

“Tudo depende das personalidades e dos sentimentos que têm. Aprendemos que, de facto, não há uma chapa cinco para tudo e que há muita variedade na forma de lidar com o luto e as perdas”, sublinhou a médica, que coordena o gabinete que funciona desde 2011 e que após os incêndios de 2017 passou a apoiar a população afetada.

Aquando da inauguração do memorial das vítimas, em 15 de junho de 2023, “houve pessoas e familiares diretos que apareceram e acharam muito bem e outras que entenderam que aquilo não fazia sentido e que não era preciso irem lá para sentirem o que se passou”.

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“As consultas de apoio têm dado resultados, as pessoas reconhecem que a proximidade as ajuda e sabem que nós estando cá podem recorrer numa emergência, pelo que mantemos o mesmo processo de atendimento semanal”, disse Ana Araújo.

Às consultas recorrem pessoas de todas as faixas etárias, desde jovens a adultos, não só as que perderam familiares, mas também quem passou por dificuldades nos incêndios, incluindo elementos de forças de segurança, sobretudo da GNR, e bombeiros, que “tiveram alguma dificuldade em aceitar que precisavam de ajuda”.

Muitas pessoas também já tiveram alta e há anos que não marcam consultas, mas a pandemia da covid-19 que grassou nos anos de 2020 e 2021, sobretudo, veio “complicar tudo e travar processos de recuperação”.

“Os incêndios, o isolamento e a solidão acabaram por interferir com a saúde mental dos concelhos outra vez. Foi uma situação muito dura para pessoas que já tinham perdido familiares nos incêndios e que depois perderam os seus idosos com a covid-19”.

O incêndio que deflagrou em 17 de junho de 2017 em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, e que alastrou a municípios vizinhos, provocou 66 mortos e mais de 250 feridos, sete dos quais graves, destruiu meio milhar de casas e 50 empresas.

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