Opinião

Verdade alternativa

Opinião | Amadeu Araújo | Amadeu Araújo | 8 meses atrás em 06-04-2024

Tinha vinte anos quando conheci o Grunge, e o que eu pulava naquela discoteca. Acabara de ver a Europa, ainda havia muito Muro, a Checoslováquia estava inteira, a Hungria era bonita e cara e a fronteira da Rússia estava ali a meia centena de quilómetros. E de repente sai aquele disco, um Nirvana perante um oásis aterrador, e três décadas depois do passamento, volto às saudades do Kurt.

O Cobain serve para estes dias em que anda por aí malta a alegar que “os tribunais estão a transformar Portugal numa possibilidade de se dizer tudo o que se quer sem haver consequências”.

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Voltámos a enxergar, aleluia modernidade, as verdades alternativas. Ou verdades consequentes.

Pelo sim e pelo não, que saia a censura que ele, não é possível dar tudo a todos. Mas alguns merecem. O de Viana do Castelo, que se entretém a emular bácoros sentados no Parlamento, o economista-chefe fará as contas, o da consultora ajudará a vender, a justiça terá tratamento hospitalar, a irmã do bruxo de Fafe – que me perdoes pai, vai incluir todos, a filha do outro cuidará para que a magistratura seja de cadafalso e pelourinho e a mãe da vice-presidente cuidará da tutela. O amiguismo voltou à Pátria, e o adjunto promete humildade e diálogo. Já a corrupção terá terapia de choque, daqui a dois meses. Perguntem ao Filomeno que ele explica como se usa machado para cortar, cerce, a corrupção.

Entrementes, que este ano não fui à Ereira, constato que há uma preocupação, gritante, com a lampreia do Rio Mondego. Carolino, do bom, ainda há, falta o peixe. E a ameaça é real, o ciclóstomo pode desaparecer, falta água, cinza a mais e tardam soluções. Algum dos serviçais das Cortes poderá olhar a nós, e por nós, e tomar medidas para manter a lampreia nos rios e nos tachos.

Talvez o Gonçalo Fadista, que não foi à posse do tríplice, tem vagar e pode fazer lobby em nome da gastronomia. E do vinagre. Se está em casa, que faça algo por nós, não seja como o outro que foi emigrante ilegal em França para fugir “à guerra, à ditadura”. Eis os nossos patriotas.

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Valha-nos o Amorim, um homem preocupado com os “magrebinos” e os incêndios. E a poesia. Do Kurt, trinta anos depois de se ter finado. Tão atual, tão precisa. “As coisas nunca estiveram tão atordoadas”. Maradas diria eu, nos tempos do grunge!

OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA

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