Opinião
Vai muita terra a monte!
De cada vez que passamos uma procuração, com amplos poderes, inquieta-nos decifrar o que podem essas plenas faculdades. Assim anda a nossa República, a fazer lembrar, uma procuração que, de arma em
riste, mandou afastar, em Coimbra, os violeiros do multibanco, para se aviar de dinheiro. O poder corrompe. Mas para esses há contra freios, nestes dias de alvoroço generalizado, que usamos a nosso bel-prazer, como merceeiro que engana na pesagem das couves, que em Viseu já foi um belíssimo alterne de poderes.
Ora sem procuração, um sexagenário, a laborar na lavoura, sim a agricultura é ofício e obrigação quotidiana, caiu a um poço. Foi em Oliveira do Hospital, na Aldeia de Nogueira. Resgatado, com muito frio e tremores, foi salvo pelos Bombeiros Voluntários de Oliveira do Hospital.
Já a nossa justiça, está como a lavoura. Patíbulo publico, rendeiros dos subsídios, que abandonaram as herdades e tragam de esmifrar o que podem. Só que, as distrações, o toucinho, casqueiro e trotil dão
nisto, não se aperceberam que a mama da vaca europeia, durante anos donzela dengosa e agora puta de mamas caídas, secou. E vamos nós, contribuintes portugueses, pagar a refeição. No prato de casa, no
disco da taberna e nos comissionistas do hipermercado que, ademais, preferem afagar os impostos nos Países Baixos, de onde não há resgate que os salve.
Perante a anunciada fome, continuam os terreiros, granjas, lameiros e fazendas do Interior a soldo, sem que alguém atire uma semente.
É mais “fácil comer o abacaxi, do que deixá-lo para os netos”, ouve-se contar em Belo Horizonte.
Desgraçado Interior, milhares de máquinas na rua, tratores, cisternas, ceifadoras e debulhadoras, tudo empanado, à espera do subsídio, um pagamento único para não amolar alfaias. Até a almotolia reclama
azeite, mas eles preferem tempero alimentar. Vivemos de falcatruas e de esquemas, esquecendo o essencial.
Como esse apelo da Associação Portuguesa de Contribuintes que contesta a reposição do imposto sucessório, ritual fúnebre executado em tempos democrata-cristãos. O Melo deve rir-se do conúbio, mas a cousa é séria. Dizem os contribuintes, eles que a malta que tem verde no salário paga 52% de impostos, que é “desnecessária, injustificada, redundante e perniciosa”. E não serve para tornar os impostos
redistributivos, o mantra das democracias liberais, que alguns, fazendo topar 1933, querem substituir pela calada das eleições para, depois de atingido a cadeira de couro com as armas republicanas, prebendarem
amigos e acólitos. Uma pista de aviação para ti, uns postes de eletricidade para o outro que empenhou os terrenos para nos financiar e, quiçá, um notário escondido na terra onde mataram o juiz e que tantos
milhões tem esculpido em nome da frugalidade de não se pagarem impostos.
A ninguém ocorre que, sustentam os doutores da Alta de Coimbra, “a herança é uma vantagem competitiva passada para a geração seguinte e que decorre do trabalho” dos progenitores. Como uma corrida, já partimos de depósito cheio, enquanto os outros ainda roubam a gasosa dos aviões.
Lá na Alemanha, esse país atávico, a Taxmenow conta com o apoio de 62 milionários, que pedem mais impostos para as grandes fortunas e normas mais rígidas .
Isto resolvia as heranças indivisas, a valorização individual dos bens e a efetiva tributação do património, em jurisdição nacional, com procuradoria e sustentadoria.
Umas “sesmarias” do século XXI, para garantir comida no prato e quebrar a espinha ao despovoamento rural.
Um alisamento social, como quem planta milho, rasgada a hereditariedade que prolonga os dândis, que aflige a anestesia fiscal.
Até na Europa, esse salvador de velhos caídos em poços alheios, esta tributação existe. E esta não tributação é, in vero, obstáculo significativo à livre circulação de pessoas e bens, principio
fundamental da União.
Mas eles assomam com a liquidez, para se chegarem à frente na tesouraria da fazenda pública. Pois que, se não cuidam da terra, que a vendam e paguem a suserania.
Lembremos o Piketty, o Thomas, e esse “Capital no Século XXI”. Para perceber de onde vem a desigualdade social, montada na acumulação de riqueza, a dengosa dama.
Há que taxar as fortunas para que a tesouraria a redistribua. O capital foge? Que não, por isso é que precisamos de harmonização fiscal na Europa e de olhos nas fronteiras, para anotar as malas de notas que perpassam em Badajoz.
Mas seja, lubrificante para ludibriar, e calma, os carris já vieram, os eletricistas já ligam os fusíveis, não é no Ramal da Lousã, é na Beira Alta e não vale a pena envenenar, nem manipular a população.
Para isso temos o contraplacado dos Açores e os ananases da Madeira. Talvez a Malvasia e a Tinta Negra, como os tempos deste barco, “jangada de pedra”, atracado sem futuro e em misteriosa decaída.
Há que pedir procuração, pistola e marchar ao Terreiro das Bruxas, fazer figas para acabar com a mala pata. Para desventuras já bastam as do Abreu. Já agora, dá cá o meu, que ele “vai muita terra a monte”.
OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA
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