Universidade
Universidade de Coimbra recebe espólio do compositor António Fragoso
A Associação António Fragoso assina, na quarta-feira, o contrato de doação do espólio do compositor António Fragoso, constituído por cerca de 1.300 documentos, incluindo inéditos, à Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, disse à Lusa fonte da associação.
O espólio é constituído por “manuscritos, entre eles, 19 inéditos entretanto descobertos, como a canção ‘A Vindima’, que estava por trás da última página da partitura da ‘Petite Suite’, 15 peças para piano e três para coro”, disse à Lusa Eduardo Fragoso, presidente da associação.
O responsável afirmou que há também escritos literários inéditos e, do espólio que vai passar à guarda da Universidade de Coimbra, constam ainda livros, correspondência, fotografias, discos, DVD, gravações da ex-Emissora Nacional, entre outros documentos.
“Toda a obra de António Fragoso está digitalizada e a ser estudada, na parte musical, pelo musicólogo Alexandre Delgado, e a literária – cito, por exemplo, as ‘Cartas a Maria’ -, pela investigadora da Universidade Católica Portuguesa Barbara Agnielo”, disse Eduardo Fragoso.
A preocupação da associação centra-se na preservação destes materiais, “já que muitos estão escritos a lápis e a perder a cor, outros são os próprios papéis que se deterioram, e a associação não tem meios para os preservar da melhor forma”.
Alexandre Delgado, responsável pela revisão e fixação do texto musical, salientou à Lusa que a obra deixada por António Fragoso, falecido aos 21 anos, em 1917, vítima da pneumónica, “é muito refrescante, tanto mais que impressionistas em Portugal, naquela época, contam-se pelos dedos, e o impressionismo chegou muito tarde [ao país]”.
O musicólogo citou os compositores Francisco de Lacerda, Luís de Freitas Branco “e um discípulo seu”, mais tardio, Luís Costa.
“Fragoso [seguiu] em direções bastantes cosmopolitas. Com a entrada no Conservatório em Lisboa, notam-se claramente influências de Debussy, Fauré e Ravel, mas [numa perspetiva] surpreendentemente pessoal, para alguém tão jovem”, afirmou Delgado.
O musicólogo nota que, na obra de Fragoso, “se esboça também um certo nacionalismo, nomeadamente nas peças para piano, como nas Canções, em que se expressa já uma certa identidade nacional associada ao folclorismo e ao nacionalismo, e também uma certa depuração, já ‘neoclassizante’, um pouco na linha de Ravel e Debussy. O Fragoso tem esse lado depurado em algumas peças, muito à frente do seu tempo”.
O musicólogo defendeu a entrega de “tão importante espólio” a uma instituição pública, como a Universidade de Coimbra, e considerou “um erro trágico que percorre gerações em Portugal, que é descendentes ficarem com as coisas em casa e depois perderem-se – cite-se o caso de Freitas Branco”.
Para o musicólogo e violetista, “a obra de António Fragoso é suficientemente interessante para merecer vários estudos”, que podem ser potenciados com esta doação.
A cerimónia, marcada para as 18:00, conta com a presença do reitor da Universidade de Coimbra João Gabriel Silva, e inclui a interpretação, por três pianistas, de obras de António Fragoso. Margarida Pratas interpretará três Mazurcas e a “Petite Suite”, Manuel Araújo, os dois Noturnos, e “a surpresa do dia, que é o jovem Pedro Afonso Ribeiro, de 11 anos, de Mangualde, um talento nato, irá interpretar, pela primeira vez em público, o Prelúdio n.º 6”, disse à Lusa Eduardo Fragoso.
Natural de Pocariça, no concelho de Cantanhede, António Fragoso morreu em 1917, aos 21 anos, e produziu mais de cem composições, entre obras corais, para piano, de câmara e “lieder”, além de vários escritos literários.
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