Opinião

Uma fronteira clara…e uma retrete!

Opinião | Amadeu Araújo | Amadeu Araújo | 5 minutos atrás em 13-10-2024

Procurando novos caminhos e novas memórias, o povo da Meda está sem correio; os três carteiros da terra terão outras missões e a correspondência lá se vai acumulando.

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Sem cartas, não chegam novas e remessas dos emigrantes, que nos encheram as escolas, repovoaram aldeias e rejuvenesceram as contas da segurança social.

Estão cá para colaborarem, como agora se diz, colocando-se em diálogo uns com os outros e com os lugares.

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São a força motriz da nossa indústria, que eu conheci pelo miolo, até Fevereiro deste ano, quando, noite fora conduzia empilhadores em cargas e descargas. Levei muitos anos neste duplo emprego, os suficientes para conhecer a cartografia dos horizontes, rasgar fronteiras e alargar vizinhanças.

Ora enquanto o Fernando Moura me sopra ao ouvido o que devo escrever, eu, ofegante, ouço no auricular “a pergunta que devo fazer”.

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E pergunto pela galeria de todos os presidentes da Câmara de Coimbra e, de caminho, pelos nossos embaixadores, e o que é que isso acrescenta, além de frenesim mediático e pouca visão além do Mondego.

Contudo, além Mondego, desenharam um programa de apoio aos media, que mais não é que o embrulho com que vão retirar a publicidade à RTP e despedir duas centenas de jornalistas.

Conhecendo a história deste Jornal, o tempo que levou para se afirmar e a persistência em cumprir o seu papel – e receber os castigos que embaixadores e retratados chutam, penso nesse plano que é criticado por “financiar salários no sector privado esquecendo os trabalhadores do sector publico”.

Isto dito por uma agremiação de sindicatos, assusta-me, aliás, toda esta clivagem é um terror. E assim percebemos como nós jornalistas estamos na senda.

Nessas perguntas, que devemos fazer e que nunca foram sopradas, chego a ouvir o ex-presidente da Comissão Europeia José Manuel Durão Barroso, a reclamar para a Europa “uma fronteira exterior, os europeus não querem muito mais imigração e há limites para o multiculturalismo”.

Impressionante esta veia fronteiriça, num país desarrumado, onde um partido político utiliza recursos da República para desancar num jornalista, em 26 minutos, os critérios editoriais que escolheu. Deve ser esse jornalismo não tradicional, de que se fala.

Entretanto, José Fernandes, de 56 anos, subchefe dos Bombeiros de Miranda do Corvo, que morreu no combate a um incêndio, em 2020, na serra da Lousã, é culpado pela própria morte.

Um chefe que é um graduado, não desce o flanco de livre vontade, vai fazer o “revis”, mas isso não apouca e servir o país é, para alguns, trabalhar em vão.

Embalado pela música do Jazz ao Centro Clube, que toca há doze anos, não me conformo. Embrenhado no Salão Brazil, volto aos emigrantes e às fábricas.

Numa delas, gloriosos carros e generosos bónus, e retretes, latrinas como nos acampamentos militares para serviço dos operários.

Vestidos de azul, como na canção. Noutra, vestidos de cinzento, meio milhão de euros de carros de serviço à porta, seguros, planos de reformas e prémios. E o operário, novamente a penar o mínimo que engorda, porque traz subsídio de turno.

Mas é preciso investir e os impostos não deixam, fazendo lembrar a empresa de correio que pede empréstimos para distribuir dividendos e a quem faltam carteiros para entregar cartas.

Ora em vez de aprender com França, para onde escapou a nossa emigração, não taxamos grandes fortunas. E nem com os suíços, de onde vem o dinheiro dos nossos emigrantes, para plafonar pensões.

E assim, espanta-se o jornal com os sete mil euros de pensão, quando ainda ontem vi a distribuição de migalhas pelos agricultores de Penalva do Castelo, que ficaram sem sustento, devido aos incêndios.

Nisto, quanto mais gastamos e menos taxamos, mais dinheiro falta.

No país pouco mais de metade das empresas existentes pagam IRC, e, todavia, ele desce, de 21 para 20%.

E o objetivo é ir baixando gradualmente até aos 17% no final da legislatura. Já o investimento, é recauchutar a maquinaria e manter as latrinas.

O país arrecada 50 mil milhões de euros em receitas de impostos, mas não os redistribui. Não constrói a estrada que o autarca de Penalva do Castelo pediu, não planta um castanheiro, não recupera uma estrada a cair de velha.

O nível dos políticos desceu, falta-lhes uma ideia para um país que se atravessa em meia dúzia de horas. Pensam o imediato. Insultam quem teima em cá viver ou vir ganhar a vida.

E, munidos de mapa, julgam conhecer a Pátria. Aborregados e aboletados pelos esquemas que congeminam para se governar marimbam-se. Pobres de inteligência, ideias e valores.

Estamos mal. Mas sempre temos a retrete, e a guarda fronteiriça para nos tranquilizar.

OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA

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