Portugal

Uma das mais importantes coleções desde o século 16 exposta no Museu do Tesouro Real

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 anos atrás em 30-05-2022

As joias da Coroa guardadas no Museu do Tesouro Real representam uma das mais importantes coleções mundiais e o “que de melhor se fez a nível de artes decorativas portuguesas e europeias do século XVI ao século XX”.

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A afirmação é de José Alberto Ribeiro, diretor do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, onde fica localizado o Museu do Tesouro Real, que se inaugura no dia 01 de junho, 226 anos depois do plano original e seis anos após o início da preparação daquele que hoje se apresenta como um museu único no mundo.

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“Quando cheguei em 2013 havia um guião de três páginas do que se deveria colocar [no museu]. A partir de 2016 quando se permitiu, ou foi possível começar as obras e avançar de forma permanente, começou um trabalho amplo de escolha, seleção, com colaboradores nacionais e internacionais”, contou o responsável, durante uma visita guiada à imprensa.

Para José Alberto Ribeiro, é um “orgulho e privilégio” que finalmente toda a gente possa “ver as peças que estiveram fechadas durante décadas e décadas e que são o exemplo do que melhor se fez a nível de artes decorativas portuguesas e europeias do século XVI até ao século XX”.

Segundo Pedro Moreira, diretor de operações do Museu do Tesouro Real, “não existe no mundo nenhum museu com estas características todas”, que junte um espólio desta dimensão e riqueza com um sistema de segurança – com vários modelos de redundância – que só tem equiparação com os do Banco de Portugal e da Casa da Moeda.

O diretor-geral do Património Cultural (DGPC) e arquiteto responsável pelo projeto, João Carlos dos Santos, acredita que este “será um dos edifícios mais seguros da Europa e do mundo”, com um modelo de segurança que “começou logo no primeiro desenho”.

Quando o museu fecha ao público, a caixa-forte também se fecha e “essa é a maior proteção que [se tem] para o próprio tesouro”.

O espólio, composto por símbolos de poder e objetos pessoais de luxo, representa uma das mais importantes coleções mundiais, pela sua dimensão, raridade e qualidade e contam a história de Portugal vivida a partir do Palácio Nacional da Ajuda, a casa dos últimos reis de Portugal.

Trata-se de uma “coleção muito diversificada” e, nos vários núcleos que compõem a mostra, procura-se mostrar em que contextos as peças eram usadas, começando com pedras e diamantes que eram a base de muitos trabalhos que ali se encontram, com o ouro, que chegava com os dotes das princesas, com ofertas papais, ou encomendas da própria família real – por vezes era “necessário repor os bens da casa real”, como aconteceu após o terramoto de 1755, em que o rei D. José encomendou a baixela Germain ao melhor ourives de Paris – com as joias, “muitas da rainha Maria Pia, talvez a que tenha deixado mais joias, e também com muitas vicissitudes que vão sendo contadas numa cronologia no tempo”, contou José Alberto Ribeiro.

Entre as peças expostas, aquelas que “desde sempre são tidas como mais valiosas” são a “insígnia rica ou o tosão de ouro grande de D. João VI, que tem uma vitrina só dedicada a ela, a laça das esmeraldas que pertenceu à rainha de Espanha Maria Bárbara de Bragança, a Ordem da Grande Cruz e a placa de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, feita para aclamação de D. João VI em 1818 no Rio de Janeiro”, acrescentou o diretor do Palácio Nacional da Ajuda.

Raras e valiosas joias, insígnias e condecorações, moedas e peças de ourivesaria civil e religiosa, como é exemplo a coroa, aquela que se pensa ser a segunda maior pepita de ouro do mundo ou a caixa de tabaco encomendada por D. José ao ourives do Rei de França, no século XVIII, e que a amante de Luís XV não queria deixar sair de Paris, são outras das peças mais importantes que compõem o acervo museológico.

O espólio do Museu do Tesouro Real está instalado numa das maiores caixas-fortes do mundo (40 metros de comprimento, 10 metros de largura e 10 metros de altura), com três pisos, munida com sofisticados equipamentos de segurança e videovigilância, portas blindadas de cinco toneladas, vitrinas com controlo de temperatura e humidade e vidros à prova de bala.

A entrada nesta gigantesca caixa-forte dourada faz-se pelo terceiro piso, através de uma dessas portas, com 40 centímetros de grossura e 2,5 metros de altura, que dá acesso a um corredor que tem inscrito na parede uma cronologia, com datas e imagens que explicam quem foram os reis e rainhas responsáveis pela coleção, bem como alguns episódios históricos significativos para a coleção.

Todo o interior do museu é escuro, sem janelas nem entradas de luz, à exceção da iluminação especifica das montras e que “não é toda igual”, variando conforme a peça – a que ilumina o diamante não é a mesma que ilumina a esmeralda – e a intensidade que se lhe quer dar.

A primeira sala acolhe cerca de metade dos núcleos expositivos, o primeiro dos quais dedicado ao ouro e diamantes do Brasil onde é apresentada uma amostra de exemplares em bruto dos metais e das gemas que simbolizam dois importantes monopólios da Coroa: a extração de ouro e de diamantes no Brasil.

Aqui se encontra um lingote de ouro de 34 quilates e o conhecido “diamante de Bragança”, que é na verdade uma grande água marinha.

No segundo núcleo, estão expostas as moedas e medalhas da Coroa, amplamente usadas pelas casas reais como instrumentos e suportes de propaganda, prestígio e poder; e no terceiro exibem-se as joias que compõem o acervo do Palácio Nacional da Ajuda, provenientes da joalharia antiga pertença da Coroa, e as joias provenientes das antigas coleções particulares de diferentes membros da família real portuguesa, entre os quais se destaca a tiara de D. Maria II, feita de outo, prata, cinco safiras e 1.400 diamantes.

O quarto núcleo é dedicado às Ordens Honoríficas e reúne um conjunto ímpar a nível nacional, do qual se destaca o tosão de ouro – cravejado com diamantes (dois cor-de-rosa), rubis e safira – exposto numa vitrina tubular “para o visitante poder vê-la em todo o seu esplendor”, referiu José Alberto Ribeiro.

O quinto núcleo apresenta “algumas das peças mais importantes e valiosas, as Insígnias Régias, entre as quais as Três Ordens Militares – Cristo, Avis e Santiago –, a coroa real, os cetros, e os dois mantos subsistentes”.

No final deste nucelo, ergue-se na parede no fundo um quadro de José Malhoa, de 1890, que representa a aclamação de D. Carlos, acompanhado de um manto em tecido seda carmesim, com estrelas bordadas com lâmina de prata dourada.

O sexto núcleo é dedicado aos objetos de uso civil em prata lavrada, com destaque para um conjunto de salvas e pratas portugueses quinhentistas, com cenas da história portuguesa e episódios bíblicos; o sétimo remete para as antigas Coleções Particulares do rei Fernando II e do seu filho, Luís I, com outras valiosas peças de prata de uso civil; o oitavo núcleo é dedicado às Ofertas Diplomáticas, de que são exemplo as “faixas bentas muito pouco conhecidas”, bordadas a fio de ouro, oferecidas pelo Papa Pio VI a Portugal; e o nono núcleo é dedicado à Capela Real, com uma seleção de alfaias litúrgicas e paramentos que evocam os cerimoniais religiosos.

O décimo núcleo centra-se, então, na Baixela Germain, assim designada por ter sido encomendada ao ourives François-Thomas Germain, após o terramoto de 1755, e que consiste num conjunto de referência da ourivesaria francesa de setecentos a nível internacional pela qualidade e raridade.

Concebido para servir “à francesa” como era uso nas cortes europeias de então, os conjuntos de pratos, travessas e talheres de ourivesaria eram dispostos simetricamente sobre a mesa, de forma sucessiva em quatro tempos que acompanham a ordem da refeição: primeiro os “cozidos”, depois os “assados”, os “entremezes” e, por fim, o “doce”.

O último núcleo, Viagens do Tesouro Real, pretende dar a conhecer a mobilidade do tesouro que estava em regra junto ao rei e que o acompanhava na sua glória e nos atos solenes, mas também nas suas vicissitudes.

O responsável pela DGPC destacou que o tesouro exposto vale pela história que conta, o que é bem ilustrativo principalmente “no último núcleo que é a viagem e mostra as caixas onde esta coleção viajou no passado”.

Sobre o valor estimado guardado deste grande cofre forte, João Carlos dos Santos garante que é “incalculável: o maior valor é que faz parte da nossa história e isso é uma coisa que não tem valor. Se estivéssemos a falar do valor dos próprios objetos em si, das pedras preciosas, estaríamos a falar de um valor incalculável”.

Um dos principais desafios para o arquiteto foi concluir o palácio, “um palácio inacabado passados 226 anos que era para ter o triplo da dimensão que tem atualmente”, conciliando o valor patrimonial do edifício, classificado como monumento nacional, com a construção, na ala poente, de uma área com uma expressão contemporânea.

Outro desafio foi o próprio museu: “Instalar em 12 mil metros quadrados um museu com particularidades grandes e especificas que é a de ser um tesouro real”.

De acordo com o diretor geral do Turismo de Lisboa, Vitor Costa, o projeto teve um custo total de 31 milhões de euros, dos quais 4,4 milhões resultaram da indemnização pelo roubo de joias, em 2002, nos Países Baixos.

O turismo de Lisboa entrou com nove milhões, provenientes de empréstimos e de fundos próprios, enquanto a Câmara Municipal de Lisboa contribuiu com 18 milhões, das taxas turísticas – sendo este o projeto até hoje que recebeu mais financiamento.

Vitor Costa adiantou ainda estar já a ser preparada a campanha de divulgação internacional deste museu e que a expectativa é de receber uma média de 275 mil visitantes por ano, 60% dos quais estrangeiros.

O museu contempla ainda áreas técnicas, um serviço de apoio à gestão, um laboratório de conservação e restauro, duas salas de exposições temporárias, um espaço polivalente e um serviço educativo.

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