Opinião

Uma comandita de oito reuniu-se, há poucos anos, para apear o rei

OPINIÃO | Nuno Mateus | 12 meses atrás em 04-12-2023

Vindos de todos os lados do reino, fizeram o que nunca fora visto. Amontoaram-se sem ideias, mas cerraram fileiras, e, desde o padre ao comerciante e ao comediante, de braço dado e espada ao ombro, marcharam sobre o palácio.

E depuseram o soberano, gritando alvíssaras e prometendo pão e circo, para terem o apoio do povo.

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Mas eram tantas as suas diferenças e proveniências que logo se inquietaram uns com os outros. Afinal, o que queriam efectivamente fazer pelo reino, se nada tinham em comum que os unisse, e apenas sabiam debitar coisas sem sentido?

Bom, como em todas as lendas, havia um governante mais afoito que se lembrou de que a estratégia que tinha derrubado o monarca poderia continuar. Houvesse pão, bolo-rei, chouriço e vinho e a coisa dava-se. Só faltava o entretenimento, e até isso se faria, nem que fosse preciso cobrar mais uns tributos, e deixar de pagar outras coisas, haveria meios de proporcionar ao povo o circo que tanto apreciava.

Resolvido. Esta estratégia era brilhante. E a comandita, agora armada em corte soberana, encheu o reino de bruxas e adivinhos, lançadores de fogo, encantadores de cavalos, trovadores, poetas, torneios de cavaleiros e todas as outras artistices de que se podiam socorrer. E anunciavam com arautos estas festas, como se de um casamento real se tratasse.

E o povo lá foi, cantando e rindo, mas depenado na sua bolsa e a olhar para um futuro sombrio.

Mas…como em algumas lendas, o final não é feliz. Esta comandita – como todas – iniciou o seu desagregar interno, conspiraram uns contra os outros, apearam-se, e no silêncio da noite congeminaram traições para cada um ocupar o lugar de rei, que tanto apreciavam.

E o povo? Esse assistiu, impávido e sereno, porque na sua imensa sabedoria sabia que se já tinha tido bastante divertimento, agora iria ver, sentado na cadeira, o maior circo de todos: a imensa sede humana pelo poder, capaz de tudo e mais alguma coisa, de facadas nas costas, sorrisos cínicos, e até de vender a alma ao diabo…

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