Andava eu perdido nas estradas do Vale de Besteiros quando a mão direita me puxou para o rádio dos cenários, e a esquerda picou um destes cigarros vermelhos que agora me compram. Onde andas tu Português Suave?
Indeciso, pensei eu, na já turística Nacional 2. Alijado o veículo, tapado o cocuruto e apertado o impermeável, entrei na taberna de Canas de Santa Maria.
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Uma bifana e um copo, 4,45 euros. Quer dizer mais dois copos e um café. Foi aquele o valor. Na terra do Dão não há Douro que lhe valha. Só Peso da Régua. Bags camuflados de vinho italiano e afinal espanhol. Esta indecência, que deveria levantar um coro de vozes, passa despercebida. Estamos indecisos. Tanto povo sem saber o que fazer. Falta o contrato. O contrato escrito.
Recapitulemos, ao escrutínio os costumes disseram não. À confiança, sabendo onde terminava a estrada, avançou-se.
Com os córregos cheios e os prados verdejantes, o povo cuida da vidinha. Videirinhos. Fazem pela vida, ingerível nas explicações, tratam agora de virar o bico ao prego.
E desatam naquela euforia que já tínhamos visto, ali entre 2007 e 2009. Duplicam o IP-3, que tem mais placas de vontades e nomes que quilómetros de alcatrão. O comboio de Aveiro para Celorico fica fora dos carris e, pergunto eu, quem avança? A sondagem desta semana mostra um muito expressivo aumento de indecisos. Não queremos saber. Já eles, entretidos nos salões e nas televisões, a virar o bico ao prego. Como não sabem distinguir uma bifana de um prego, amadas as perceções, seduzamos agora a verdade alternativa.
A dita sondagem acarreta também uma maioria de insatisfeita com os esclarecimentos.
Quem nos governa? Revista a Constituição, 1982, acabaram os governos de iniciativa presidencial. Mas o congeminador promete que não vai empossar intendência sem garantias de ter programa de governo viabilizado no Parlamento.
Com este folguedo, tropa na rua. Perdão, almirante na rua. Ordem, limpeza, salários decentes e um país arrumado. É assim tão difícil?
Com um acinte difícil de entender, parece que os militares não podem aviar política. O povo vota por melhor economia. E por quem respeita as regras do jogo.
Ora se do vinho estamos falados, do jogo só se for uma bisca lambida, não há parceiros para canastra. E acordos de estabilidade também não.
Ou se cuidam por uma vez, e governam no café central, ou então troquem-lhe os nomes. Quais lama. Uma estrumeira.
OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA
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