Opinião
Um Portugal da bola
E se Portugal fosse só o país do futebol?
Imaginemos, numa mera hipótese, que em todos os aspectos da nossa vida comunitária, esta se equivaleria aos campeonatos nacionais da 1ª Liga, às competições europeias em que participam os nossos clubes, e à selecção nacional.
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Queremos um Serviço Nacional de Saúde (SNS) a funcionar correctamente, em que qualquer cidadão poderia escolher em recorrer ao SNS, ou optar por utilizar serviços privados, sem que sentisse uma diferença colossal no tempo de espera e no tratamento? Bastaria equivaler aos jogos da 1ª Liga, em que os clubes grandes se digladiam em estádios lotados, e os clubes pequenos batem o pé aos grandes, e lançam a confusão num campeonato.
Para quem não tem dinheiro para um SNS funcional…a 1ª Liga seria colocar esse SNS num nível que nunca tivemos nem teremos.
Queremos salários europeus?
Seria só promover que esses salários fossem iguais aos jogos entre os depauperados clubes portugueses contra os tubarões europeus, que normalmente só nos vencem com dificuldade, e muitas vezes perdem, de nada fazendo valer as diferenças orçamentais entre os clubes.
E, assim, teríamos salários nórdicos, daqueles que só em sonhos bons almejamos ter. E que nunca serão possíveis na nossa vida real.
Queremos uma valorização das carreiras profissionais, que seja apelativa aos jovens, e que lhes permita ficarem em Portugal em vez de emigrarem?
Então era só sermos a seleção nacional “A”, que não perde há mais de uma dezena de jogos, ganha europeus, vai a fases finais de mundiais, e mete respeito a qualquer equipa do mundo.
Deixaríamos de ser um país em que os mais novos não sentem terem futuro, para sermos o país da evolução natural, mas sem saídas quase obrigatórias, em que todos sentiriam que não valia a pena procurar vida em locais longínquos. Éramos a nova Suiça europeia.
Mas não o vamos ser. Nunca o fomos, não somos, e nunca seremos.
Entretanto, e visto isto ser só um sonho, vamos sorrindo com os feitos futebolísticos, vamos abanando as bandeiras clubísticas, e vamos vivendo, vamos arrastando os dias, sempre á espera de mais um joguito da bola para nos fazer sorrir, e nos aliviar das amarguras diárias.
OPINIÃO | NUNO MATEUS – JURISTA
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