Opinião
“Um pedaço do nosso Portugal”
“Um pedaço do Nosso Portugal”, cantarolou um dos ministros do nosso Governo sem que um assessor atento o retirasse do churrasco em lume brando que se metera.
É natural, as visitas ministeriais, dizem em Tondela que até tem ministro residente, “são um dia glorioso”.
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Ora no que importa, a 22 de Agosto estavam queimados 5 002 hectares na Madeira, e dias houve em que arderam 65 hectares.
Um fogo lento, ideal para o churrasco de políticos em férias e carreados a poncha, que eles até têm dúvidas sobre Kamala ou Donald.
Siga, deixem-me ser um “abutre” na ilha, ainda engasgado com as declarações da senhora Ministra e a competência de certas assessorias e adjuntos, que me deixam a certeza de que já chegámos à Madeira.
E eu, prosélito e contador de histórias, lembro os seis caças F-16M, das esquadras dos falcões, de Monte Real, que aquilo não é só termas. Seis calas num voo de formação sobre o rio Tejo, para dar o tiro de partida na prova de ciclismo “La Vuelta”, que teve início em Belém.
Houvera padeiras em Aljubarrota e os senhores generais perceberiam o que é importante ao país. Mas, adiante, é tudo festival aéreo, menos na Madeira.
Dez dias depois, o incêndio que deflagrou na Ribeira Brava continua a ser combatido pelos bombeiros e desancou o turismo, embora eles digam que não.
No Funchal, a autarquia pediu à população para ter cuidado com o consumo de água, para que esta seja suficiente para o combate às chamas.
Antes isso a racionarem o vinho.
Sim, é verdade que a orografia é complexa, a meteorologia não ajudou, os meios são poucos e o ataque inicial falhou.
Mas, da experiência que tenho desta matéria, sempre foram 16 anos de enxada na mão, sentado no Bell ou no ar condicionado, quando este velhaco chegou a chefe, acho que a coisa podia ter corrido pior.
Assim não destoa, 44 anos disto e continuamos a falhar na articulação política e operacional, que é decisiva nestes cenários! Quer dizer, os políticos não sabem, mas fingem e sempre conseguem levar o que é preciso para o seu quintal, dependendo da influência.
E, senhor Almirante, desde 2010 que andamos de volta do navio polivalente logístico. Tivemos o Mistral, francês, por 200 milhões, mas não quiseram. Assim, de cada vez que há desaires nas ilhas, lá vêm espanhois e americanos ajudar. Um país inteiro, com uma costa marítima de largo espectro e ão coloca os Estaleiros do Mondego, que já construíram muitos navios, a funcionar.
Perante isto somos abutres, impedidos de informar e reportar este país prenhe de desigualdade que faz lembrar Santo Tirso, onde há bombeiros vermelhos e amarelos.
Nós temos, para Grécia, para o Canadá, para a Turquia, só não temos para a nossa casa.
Um país que politicamente falando e bem falado, joga o pleito dos interesseiros e dá negócios aos amigos.
O resto foi o que contou o Sindicato dos Jornalistas, que denunciou o “clima de pressões e restrições” na atividade dos profissionais envolvidos na cobertura do incêndio que lavra na ilha.
Lembram-se do Canadair que havia caído em Pedrogão? Invenção e, depois, vai-se a ver a fita do tempo e lá está a comunicação.
Percebemos a censura, contudo o problema, agora, é como isto vai terminar, vergonha regional e nacional.
A conservação da natureza não vale nada e os vindouros que se preparem, vão receber terra calcinada.
E, agora, se me permitem, vou alia Quiaios, prover e chorar por mais.
Chouriço que, tal como o aviões tem festival.
O Festival do Chouriço Tradicional de Quiaios, até Domingo, fumado naturalmente a lenha de azinho.
Ainda sou gajo para comprar umas toneladas, pegar no avião que serve os ciclistas, mas não o país e abalar-me à Madeira.
Fumado e ganzado que ele há que manter o alvoroço.
OPINIÃO | AMADEU ARAÚJO – JORNALISTA
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