Coimbra
Tragédia em Coimbra. O Mondego calou quatro amigos e deixa em silêncio um sobrevivente
Imagem: DR
No último dia do ano de 1978, a 31 de dezembro, uma das tragédias mais marcantes de Coimbra abalou a cidade.
Um grupo de cinco amigos, jovens caçadores, perdeu a vida ao tentar atravessar o rio Mondego, numa ponte de madeira que, em tempos passados, ligava as duas margens. Com o nível do caudal alto, os homens caíram ao rio, sendo arrastados pela corrente.
Apenas um sobreviveu, e, até hoje, remete-se ao silêncio sobre o ocorrido. A sua recusa em falar sobre a tragédia tem sido respeitada pelas famílias das vítimas, que elogiam o seu voto de silêncio.
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Alcides Lopes, presidente da direção do Centro Social de São João recorda a angústia vivida pelos habitantes: “Era miúdo e estava a brincar na rua, quando vieram pessoas pedir socorro”. A busca pelos corpos não teve sucesso e os familiares viveram dias de incerteza e sofrimento até que, finalmente, os cadáveres foram encontrados.
A ponte, construída em madeira e sustentada por espias de aço, não aguentou o peso dos homens e virou. “Todos caíram ao rio, e só um se salvou”, relata um amigo do sobrevivente, que permanece também em silêncio desde aquele trágico acontecimento. O trauma é evidente e as palavras não são suficientes para descrever a dor de ver os amigos desaparecerem tão subitamente.
Amável Batista, que tinha 38 anos na época recorda o momento com pesar. “Fomos alertados por volta do meio-dia. A dor foi imensa para todos. Alguns de nós precisaram de acompanhamento médico após a tragédia ser confirmada”.
Carlos Jorge, então com 19 anos, também se lembra do acidente: “A situação mexeu muito com todos nós. O sobrevivente estava agarrado à ponte, estando submerso pela água até ser resgatado com vida. Foi um milagre.”
Em homenagem às vítimas – José dos Reis Romeiro Coelho, António Alberto Neves Lemos, António Gomes Correia e Álvaro Salgado Vilão – foi erguido, em 2013, um memorial próximo ao local da tragédia. Este monumento, que representa a ponte, o rio e as pedras do leito, sofreu danos devido a atos de vandalismo. No entanto, as lembranças continuam vivas no local, com velas e flores deixadas pelos que ainda lembram a tragédia.
O fatídico dia 31 de dezembro de 1978 permanece gravado na memória. Embora se fale sobre a possível irreverência da juventude ou uma brincadeira inconsequente, apenas os envolvidos poderiam contar a verdadeira história. Mas o Mondego calou quatro vidas, e o sobrevivente permanece em respeito à memória dos amigos perdidos.
Recentemente, a Câmara Municipal de Coimbra iniciou as obras de alargamento do pontão na Rua dos Mártires da Tragédia do Mondego, em Pé de Cão. Estas obras fazem parte de uma empreitada maior que visa garantir maior segurança nas infraestruturas municipais. Durante a visita ao local, o Notícias de Coimbra teve a oportunidade de ouvir testemunhos emocionantes sobre uma das mais trágicas histórias associadas ao rio Mondego.
A memória da tragédia do Mondego continua a marcar as gerações que viveram aquele momento de dor e sofrimento, deixando um legado de reflexão sobre os perigos da natureza e a fragilidade da vida.
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