Opinião
Todos contra a parede!
É inevitável: não há quem, atendendo às notícias dos últimos dias, possa sentir-se seguro ao viver em Portugal. Falo, naturalmente, dos inúmeros bens de consumo que a comunicação social tem vindo a dar conta de que verão o seu preço subir com o início de 2025 e que aumentarão exponencialmente a sensação de que não é seguro que se consiga chegar sequer a meio do mês com dinheiro no bolso!
Só mesmo apresentar uma lista completa destes aumentos parece ser mais difícil do que a conjugação muito particular de matemática e ginástica a que muitos portugueses vão ser sujeitos… mas vamos tentar!
Os problemas surgirão logo ao pequeno-almoço: pão, café, cacau, leite, queijo e manteiga ficarão mais caros. Mesmo que opte por poupar ao tomar essa refeição em casa, tentar chegar ao emprego anulará provavelmente essa margem, com a subida do preço de vários transportes públicos, de meia centena de portagens (e já ninguém presta atenção aos aumentos regulares dos combustíveis, certo?) Ao almoço, poderá não precisar de fazer tantas contas… desde que se fique pelas conservas, que contrariarão a tendência de aumento do preço da carne e do peixe, com o do bacalhau a poder até duplicar. Seria uma boa oportunidade para se tornar vegetariano, não fosse estar também previsto um aumento generalizado dos produtos agrícolas.
No regresso a casa, mais preocupações, porque estão previstas atualizações – eufemismo com que as empresas gostam de nos tentar distrair – nos preços do gás natural no mercado livre (que se seguem às do mercado regulado, no final de 2024), no abastecimento de água, no saneamento ou na gestão dos resíduos urbanos. Claro que isto só representará problemas se tiver mesmo casa…
A propósito, mesmo que a tenha, não é certo que chegue ao final do ano nessa situação: as rendas vão subir (em alguns casos, mais de 10%) e o preço da habitação vai continuar a aumentar.
Como a lista já vai longa e as tarifas de telecomunicações devem igualmente subir, pelo que é melhor ir poupando na Internet, deixe-me só acrescentar que também não será fácil encontrar formas de se abstrair do aumento do custo de vida, porque vai ficar mais caro ir a museus ou monumentos (mas, numa circunstância reveladora do espírito dos tempos, os bilhetes para as touradas ficarão mais baratos). E nem sequer beber para esquecer será uma opção (nunca deve ser, aliás): as bebidas alcoólicas também estão incluídas nos produtos que vão sofrer aumentos já em janeiro.
Valerá aos portugueses, estou convicto, a circunstância de a política nacional ser cada vez moldada por perceções e sensações, que condicionam e determinam políticas muito mais do que os factos. E com tantos de nós a sentirem que é, de facto, um roubo aquilo a que nos teremos de sujeitar neste Ano Novo, certamente o Governo não deixará de dar ordens para encostar imediatamente à parede todos os que tiram partido desta situação.
Num país que se situa entre os campeões europeus da disparidade salarial entre gestores ou diretores e restantes trabalhadores (e em que esta tem vindo a aumentar), aquela será uma fila bastante grande.
OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO
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