Desporto
Sporting Campeão: A Coimbra dos Amores rendeu-se aos encantos do Leão
A cidade não está deserta, para contrariar os Ornatos Violeta. Coimbra está antes viva, eletrizante, festiva, mesmo que a maldita covid-19 tenha impedido os excessos, que seriam por esta altura, da boémia Queima das Fitas.
Mas hoje, em substituição do habitual efe-erre-á que assinala o êxtase estudantil, ouviu-se um sonoro rugido “Sporting campeão”, que ecoou com estrondo no vale do Mondego.
E em toda a parte, voltando a pegar em ‘Ouvi Dizer’ da banda de Manel Cruz, nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas, em todo o lado, exponenciou-se o amor que nunca acabou ao Sporting, clube que hoje voltou a subir ao trono de campeão português de futebol.
Era aquele título que lhe escapava há quase 20 anos e que o Sporting, ainda invencível esta época, já transportou para o museu em 18 ocasiões. Está desenhada nova vitrina para renovado título, o selado hoje, o 19.º, num atípico ano em que nas bancadas não se ouviu o grito do adepto, impedido pela mal fadada pandemia de assistir aos jogos de futebol em Portugal.
A estes títulos no futebol, juntam-se naquele museu mais de 22 mil troféus, em diversas outras modalidades, que fazem com que o Sporting se assuma como a maior potência desportiva nacional. Tão grande como os maiores da Europa, como profetizava José Alfredo Holtreman Roquette, o fundador em 1906 do Sporting Clube de Portugal. José Alvalade, portanto.
Mas em dia de festa, em tempos de distanciamento social raramente cumprido, numa cidade encantada pelas capas negras e pelo amor que se multiplica tão apaixonadamente e que detona corações para fora do peito, hoje houve Sporting em cada esquina, em cada gole, em cada beijo ou em cada entrelaço de adeptos que partilham o mesmo amor, não doença. A mesma paixão, sem nunca ser obsessão: um bem-querer ao Sporting Clube de Portugal.
A espera foi longa, o prazer mais duradouro. Há adeptos do ‘leão’ que nunca festejaram, pela tenra idade, um título de campeão nacional. E em Coimbra, cidade aonde muitos estudantes sobem até perto da Cabra ainda antes da maioridade, há muitos casos assim. Como há também tanta juventude a palpitar no Sporting, casos de Tiago Tomás, Max, Gonçalo Inácio, Nuno Mendes, Bragança, Quaresma, Jovane, Matheus Nunes, Porro ou Pedro Gonçalves.
Na Praça da República, icónico ponto de encontro da cidade, foram igualmente os mais jovens que chegaram primeiro para assistir ao jogo do título. Um Sporting–Boavista, para antepenúltima jornada do campeonato, num início de noite do 11 de maio de 2021. 20:30. Apita o árbitro. Começa o jogo. A bola roda, o coração bate sem regra. Tum-tum-tum.
Nas mesas em redor da Praça, debate-se o que é “Ser Sporting”: É não encontrar no dicionário a palavra desistir, é acreditar que é este ano, é esfregar as mãos em setembro e gozar com a maldição do Natal. É encher o estádio ano após ano e nada ganhar. É ser diferente e é também sair à rua em dia de Sporting Campeão, rasgar a camisa e mostrar orgulhosamente a verde e branca.
“Só cá estão os que gostam do cheiro a naftalina”, goza um estudante, que, com o leão ao peito, demonstra a paixão ao clube de Alvalade.
E uma adepta, na mesa ao lado, riposta: “Este ninguém nos tira. Nasci em 2002 e, por isso…”, confessa, de sorriso malandro. Nasceu no ano do último título, o ano de João Pinto e Jardel, que tinham assistido noutras longitudes, em 1999/2000, a uma época de eleição de Schmeichel, Acosta, Iordanov, André Cruz, Duscher e tantos outros. Faltava pouco para Cristiano Ronaldo subir à principal equipa.
Aos 35.18 minutos, Paulinho marca e a festa estala. A PSP, nas proximidades, não regista qualquer incidente e mantém-se discreta.
Mais recatados, e entre elogios à juventude comandada por Rúben Amorim, dois mais experimentados adeptos lembram aqueles dois títulos, mas também os do arranque da década de 1980, com Manuel Fernandes ou Jordão. E demais craques.
E atribuem o 19.º título, se também aos jovens, igualmente àqueles que ofereceram experiência aos mais imberbes.
“Houve muito Coates, Adán, Nuno Santos e Palhinha”, atira um deles, que recebe na resposta: “E também o Neto, que ajudou, como o Antunes, o Feddal e o do lado direito”, porventura em referência ao “ranhoso” João Pereira, como o definiu Amorim.
Ao intervalo, já alguns carros se aproximavam da Praça e muitos adeptos mostravam bandeiras, cachecóis e camisolas há demasiado tempo guardadas.
Há muita ansiedade a 10 minutos do fim, poucas máscaras, muita proximidade física – e nada justifica o desrespeito.
Acaba o jogo, três depois dos 90: a Praça da República recebe tochas, buzinadelas, abraços, beijos, banhos de cerveja, enfim, o costume em festas semelhantes.
Capas negras ao chão, Coimbra prestou então Guarda de Honra ao Sporting campeão.
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