Coimbra
Socialistas de Mira dizem que projeto Lusiaves é uma ameaça para a saúde pública e exige referendo municipal
“Para nós, a estratégia de desenvolvimento sustentável do nosso concelho assenta na qualidade ambiental e numa aposta mais séria e efetiva no turismo. Não somos contra o investimento empresarial, bem pelo contrário, no entanto existem áreas empresariais que são totalmente incompatíveis com o que pretendemos para o nosso território e esta é, claramente, uma delas”, diz a estrutura local do Partido Socialista, em nota enviada à Lusa.
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Em causa está o chamado “projeto Lusiaves”, anunciado investimento de mais de uma dezena de milhões de euros que passa pela construção de um “mega-aviário” da empresa Lusiaves em terrenos situados na freguesia do Seixo, num local onde em tempos se ergueram as famosas estufas do empresário francês Thierry Roussel (marido da multimilionária Christina Onassis).
Os 200 hectares de terrenos situados na zona dos Foros, a caminho da praia do Poço da Cruz, foram desafetados no final de 2017 pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. O processo de licenciamento da exploração agropecuária, que promete criar mais de 300 postos de trabalho, está condicionado pelos limites da Reserva Ecológica Nacional (REN) e da Reserva Agrícola Nacional (RAN), além dos necessários estudos de impacto ambiental numa zona de areias e mata.
A Câmara Municipal de Mira (distrito de Coimbra) promoveu durante o mês de agosto uma sessão de esclarecimento, no Seixo, para apresentação do projeto à população. Na sua sequência foi lançado um abaixo-assinado contra a instalação da exploração agropecuária.
O PS de Mira rejeita a instalação da fábrica da Lusiaves, invocando motivos ambientais e de saúde pública. Os socialistas são especialmente críticos do presidente da câmara, o social-democrata Raul Almeida, acusando-o de ter “uma postura pouco transparente” nesta matéria.
“Em momento algum [Raul Almeida] afirma, claramente, ser a favor da instalação desta unidade: nem no seu programa eleitoral, nem em reuniões públicas, nem sequer na sessão realizada no Seixo. Porém, procurou os investidores, ofereceu-lhes ótimas condições (requisitos que nunca propôs aos empresários locais), continua a tentar desbloquear todo o processo permitindo este investimento”, acusa o PS.
As principais objeções dos socialistas têm a ver com a possível contaminação dos cursos de água na zona de Foros, atravessada por diversas valas com ligação à Lagoa de Mira e à Barrinha. Por outro lado, invocam estudos que apontam para o crescimento súbito de doenças, sobretudo respiratórias, em áreas onde existem explorações agropecuárias do mesmo género.
“A instalação desta estrutura, numa zona tão sensível, não afetará apenas o nosso (já tão degradado) sistema hídrico, mas terá um grande impacto na saúde pública. Todas as atividades turísticas, desportivas e lúdicas serão ameaçadas. A manutenção da Bandeira Azul poderá ser posta em causa”, argumentam os socialistas.
O PS de Mira avisa que “a vida económica é importante, mas tal argumento não pode sobrepor-se à saúde pública, à vida, à sobrevivência e dignidade duma terra e das suas gentes” e por isso propõe a rejeição imediata do investimento.
“Caso o PSD continue a pretender impor o projeto (contra a vontade da população), em alternativa, propomos um referendo municipal e rejeitamos incondicionalmente esta forma de atuar da atual Câmara”, concluem.
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