Opinião
Sobre a felicidade
Nos seus pensamentos metafóricos, o escritor espanhol, Félix de Azúa, indaga-nos: saímos pelo mundo ou continuamos a arrumar a casa? Muitas pessoas passam as suas vidas inteiras a procurar a felicidade, ou de coisas que possam trazê-la, como uma fruta-doce e madura da árvore que o avô plantou.
Em certa ocasião, a felicidade é uma das angústias modernas que findam sempre numa rua. Mas, por que falamos tanto de felicidade? No livro “O Significado das Coisas” do filósofo inglês Anthony C. Grayling, sabiamente afirma “que a procura da felicidade constitui uma das principais fontes de infelicidade do mundo”, e o que intriga os investigadores é que esse sentimento pode ser compreendido de diferentes formas.
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Mas o que faz um ser humano feliz? Gozar de uma boa saúde, comer empadas sem glúten? Qual é o motivo principal? Sabe-se que o estado de alegria permanente não existe – como aquela sensação harmoniosa entre o querer e o poder. A felicidade esgota-se num momento de satisfação de um sonho realizado: ter um cachorro, uma casa, um carro. E mesmo com esses privilégios, sabemos que ainda não teríamos garantia de uma vida feliz.
A primeira coisa que surpreende, na incessante busca por essa plenitude, é a insatisfação, mesmo que tudo possua – possa ser cobiçado pelo outro -, está sempre a faltar um pouco mais de dinheiro, de entusiasmo, talvez, por parecer excêntrico e desejar algo que ainda ninguém tem.
É possível que a felicidade humana dependa mais do seu propósito, do que qualquer bem material, para isso é útil que a racionalidade tenha a ver com essa sensação contemplativa de ser, estar e parecer feliz sem isso ser um crime ou um deboche.
O que se sabe é que gente feliz não incomoda ninguém, porque obedece ao que chamamos de “caráter” e, também, de consciência sobre o destino das coisas supérfluas. Aqueles que têm a sorte de viver muitos anos poderão experimentar a felicidade de diversas formas. Mas, nós, os modernos, somos incapazes de seguir uma linha reta – apesar de inventarmos manuais para quase tudo -, esse é, talvez, um sintoma indubitável da nossa falência como ser racional.
No meu justificado pessimismo, após refletir sobre esse assunto, a felicidade não é dada como um presente, mas cada pessoa deve conquistá-la. Não é uma batalha ou um jogo, basta, simplesmente, saber por onde andam os seus pés, a cabeça e o coração. E se acaso essa trilogia estiver alinhada é meio caminho para um encontro feliz, porque alguém tem de ir ao mar e o outro precisa de esperar o trem.
OPINIÃO I ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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