Portugal
“Só quero ser filho da mãe”. Afirma ser irmão de Adão e Eva e o Estado não o consegue desmentir
Imagem: CNN Portugal
José Martins, de 58 anos, afirma ser irmão de Adão e Eva – as únicas criaturas que não tinham nem pai nem mãe, geradas diretamente por Deus.
O homem, natural de Tavira, não tem mãe e não tem sido por falta de esforço. Veio a falecer poucas horas depois de dar à luz com uma grave hemorragia e falta de acessos ao local ditaram a morte da progenitora.
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Com a morte, coube ao pai de José a tarefa de registar o recém-nascido no registo civil.
Os funcionários terão perguntado o nome e este terá respondido em jeito de apresentação e indicou dois nomes: Custódio José.
O nome foi registado quando o nome completo seria Custódio José Joaquim Rosa. Quanto ao nome da mãe não consta no registo e, por isso, aos olhos do Estado, José não é filho da mulher que o trouxe ao mundo.
“Eu sou irmão de Adão e Eva, porque acima de mim não tenho pai nem mãe, só tenho o pai que é Deus”, diz à equipa da CNN Portugal.
Erros nos registos civis “eram mais comuns do que agora, porque o processo era manual”, explica a advogada Rita Garcia Pereira.
Naquela altura admitia-se a existência de filhos de pais incógnitos, e agora não. Mas a história não termina aqui. O nome do pai de José era Custódio José Joaquim Rosa e o filho ficou registado como José Martins…
“Foi um nome que o meu pai imaginou, não se sabe de onde, nunca ninguém soube de onde e daí… já procurei ao longo dos anos, perguntei a muita gente da família, parentes de 4º e 5º grau e ninguém tem o nome Martins. Não tem lógica o sobrenome Martins associado a qualquer membro da família”, conta.
Quando a família deu conta da situação, insistiu com Custódio para que fosse corrigir o erro, mas este entretanto morreu quando o filho tinha 4 anos.
A criança ficou aos cuidados de uma tia paterna tendo crescido sem pais na vida e sem mãe perante o Estado. Já maior de idade tentou várias vezes alterar os dados, mas sem sucesso.
“A república portuguesa e o Estado não provam de onde é que eu nasci, se nasci de uma mulher, se nasci do pó como dizem que Adão nasceu”, afirma o homem.
José informou-se e soube que teria até aos 28 anos para alterar o registo. No entanto, não conseguiu .
Rita Garcia Pereira esclarece que em “junho deste ano houve um acórdão do Tribunal Constitucional a dizer que o prazo de 10 anos sobre a maioridade era inconstitucional e, portanto, nem esse prazo existe agora”. O que significa que, mesmo aos 58 anos, José pode dar entrada com uma ação em tribunal.
” José é invisual. Sofre de aniridia, uma condição rara que consiste na falta da íris no olho. A doença é hereditária e pelo menos dois tios maternos também sofriam da mesma condição”, pode ler-se.
“Eu estou desesperado porque eu gostava de antes de morrer gostava de ter o prazer, o orgulho, a felicidade de dizer ‘eu também tenho mãe’”, diz José.
José só quer mesmo ser filho da mãe, pelo orgulho e para poder receber a pequena e simbólica herança a que tem direito. Fica agora dependente da ajuda de um advogado e da boa vontade de um tribunal que possa reconhecer aquilo que parece óbvio para todos.
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