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Síria: Líder Ahmed al-Charaa diz que nova Constituição e eleições podem demorar três anos
O líder de facto da Síria, Ahmed al-Charaa, afirmou hoje, numa entrevista à televisão saudita al-Arabiya, que o processo de preparação e elaboração de uma nova Constituição pode demorar cerca de três anos e organizar eleições quatro.
“A Síria precisa de um ano para que os cidadãos experimentem mudanças radicais nos serviços”, disse al-Charaa em excertos escritos da entrevista à emissora estatal saudita, acrescentando que todo o procedimento para criar uma nova Constituição pode demorar cerca de três anos e a realização de um processo eleitoral pode levar quatro.
“Qualquer eleição adequada exigirá um censo populacional completo”, o que leva tempo, observou o antigo líder rebelde, que era conhecido pelo seu nome militar, Abu Mohamed al-Jolani, al-Arabiya, cuja entrevista será transmitida na íntegra ainda hoje.
Relativamente às manifestações e protestos que têm ocorrido na Síria, comentou que é um direito legítimo de qualquer cidadão expressar a sua opinião, sem prejuízo das instituições.
Falou ainda das nomeações de funcionários da mesma cor política no atual governo de transição e justificou-as como uma medida num cenário que exige harmonia na nova autoridade síria.
“A atual forma de nomeações era uma necessidade nesta fase e não era para excluir ninguém”, declarou al-Charaa, que considerou que “as quotas neste período teriam destruído o processo de transição”.
Sobre algumas “operações de retaliação” que ocorreram contra “restos do antigo regime”, observou que foram “menos do que o esperado em comparação com a dimensão da crise” e acrescentou que “o regime anterior deixou enormes divisões dentro da sociedade síria”.
Apesar disso, “não há preocupação dentro da Síria, uma vez que os sírios estão a coexistir”.
Quanto à dissolução dos grupos armados rebeldes que formaram a coligação que depôs o regime do Presidente Bashar al-Assad, incluindo a Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham ou HTS em árabe), disse, segundo o excerto da al-Arabiya, que “o grupo será certamente dissolvido” e que isso será anunciado em breve na próxima Conferência Nacional de Diálogo.
Com a deposição de Bashar al-Assad em 08 de dezembro, o novo Governo sírio estabelecido prevê manter-se em funções até 01 de março de 2025, embora até ao momento não tenha anunciado qualquer calendário eleitoral ou ações detalhadas relativas à organização política assim que terminar este mandato de transição.
A Síria é um país devastado por uma sangrenta guerra civil desde 2011 e onde cerca de 90% da população vivem abaixo da linha de pobreza.
No início de dezembro, uma operação relâmpago de uma coligação de grupos armados rebeldes assumiu o controlo do país e levou à fuga do Presidente Bashar al-Assad para a Rússia, colocando fim a um regime de mais de cinco décadas e que remontava ao período do seu pai, Hafez, desde 1971.
Os rebeldes foram liderados pela HTS e por al-Jolani, que têm na sua base ligações à al-Qaida e Estado Islâmico.
No entanto, desde a sua caminhada vitoriosa para Damasco, o novo líder de facto da Síria tem procurado afastar-se do passado de radicalismo islâmico e usar um discurso inclusivo e tranquilizador tanto dentro do país como para o exterior.
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