O segundo dia de greve dos trabalhadores da Sociedade Central de Cervejas mantém hoje uma adesão de 100%, segundo fonte sindical, decorrendo na quinta-feira um plenário para decidir “novas formas de luta” face ao silêncio da administração.
“Não tivemos nenhum contacto por parte da administração, o que lamentamos. Na quinta-feira, na greve do turno das 08:30 às 10:30, vamos fazer um plenário para decidirmos novas formas de luta, que passarão muito provavelmente por um pré-aviso de greve específico para o trabalho suplementar aos sábados, domingos, feriados e tudo o que seja para além do horário de trabalho”, afirmou à agência Lusa o dirigente sindical Rui Matias.
O dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos de Portugal (SINTAB) assumiu, contudo, a expectativa de que a administração “possa retomar as negociações rapidamente”.
“Este clima não é favorável para ninguém, nem para os trabalhadores, nem para a empresa e muito menos para o negócio. Esperamos que a empresa tenha a capacidade de decidir rapidamente o que fazer com esta situação”, sustentou.
Os trabalhadores da Sociedade Central de Cervejas e bebidas (SCC), dona da Sagres, iniciaram na segunda-feira uma greve para reivindicar aumentos salariais “dignos e justos” e progressão na carreira, decorrendo a paralisação durante a toda a semana em três períodos distintos de duas horas: das 00:00 às 02:00, das 05:00 às 07:00 e das 08:30 às 10:30.
Contactado pela agência Lusa, o diretor de comunicação e relações institucionais da SCC garantiu na segunda-feira que a empresa está aberta “ao diálogo”, mas que face à greve as negociações do Acordo de Empresa (AE) “estão pendentes”.
“A greve é um direito dos colaboradores, que respeitamos”, referiu Nuno Pinto de Magalhães, esclarecendo que o protesto “tem um potencial máximo de aplicabilidade a cerca de 300 colaboradores da unidade abrangidos pelo AE, que representam cerca de 50%” do total.
A administração da SCC recordou que, nos últimos três anos, o acordo alcançado em termos salariais “foi sempre acima do valor da inflação verificada”, tendo ascendido em 2016 a 2% de aumento, num mínimo de 20 euros, a uma atualização de 30 euros em 2017 e a uma subida de 2%, num mínimo de 20 euros, no ano passado, acrescido de um prémio individual de 1.000 euros para todos os colaboradores abrangidos pelo AE”.
De acordo com o SINTAB, os trabalhadores reclamam “aumentos salariais dignos e justos”, que diminuam a atual “desigualdade salarial”, exigindo uma atualização “na ordem de 4%”, num mínimo de 40 euros, e de 1% no subsídio de turno.
Segundo Rui Matias, os trabalhadores pretendem ainda uma revisão das avaliações, das promoções e das carreiras profissionais, já que sentem “um desagrado muito grande” a este nível: “O desenvolvimento profissional está completamente estagnado. Há cerca de 13 anos que o modelo de evolução profissional contemplou menos de 10% dos trabalhadores, num total de cerca de 350, ou seja, estamos a falar de 20 e poucos trabalhadores que tiveram algum desenvolvimento profissional neste período”, afirmou.
O dirigente sindical destacou que os trabalhadores “fazem muito trabalho suplementar” aos sábados, domingos e feriados, pelo que, se não for possível chegar a um acordo, num prazo de dois meses começará a faltar cerveja no mercado, numa altura do ano em que o consumo aumenta.
“Afigura-se aqui uma situação de impasse tremendo e vai começar a faltar a cervejinha no mercado. Eles podem ter muito ‘stock’ por agora, mas em dois meses será muito difícil responder às solicitações do mercado, até porque estamos a caminhar para o verão, que é o período de maior consumo de cerveja”, sustentou.
De acordo com o dirigente do SINTAB, durante os períodos de paralisação os trabalhadores mantêm-se concentrados frente às instalações da empresa, em Vialonga, sendo que a adesão à greve “continua hoje a 100%”.
No plenário de quinta-feira, pelas 09:00, está prevista a participação do secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos.