Ouvir chamadas em alta-voz, assistir a vídeos nas redes sociais ou até participar em videoconferências sem auscultadores tornou-se uma prática comum nos transportes públicos em Portugal. Para muitos, é já parte da rotina. Para outros, um incómodo crescente que ainda raramente se traduz em queixas formais.
Segundo dados da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT), fornecidos ao Público, entre as quase 29 mil reclamações recebidas em 2024, apenas 121 foram relacionadas com comportamentos ruidosos ou pouco urbanos por parte dos passageiros. Ainda assim, estas situações podem originar multas entre 50 e 250 euros, embora a aplicação de coimas continue a ser rara.
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A Comboios de Portugal (CP), principal operadora ferroviária nacional, reconhece o problema e está a avaliar a criação de carruagens dedicadas ao silêncio, sobretudo nos serviços de longo curso, como o Alfa Pendular. Trata-se de uma medida inspirada em países como França, Alemanha ou Itália, onde estas zonas silenciosas já fazem parte da oferta habitual.
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A empresa já emite avisos nos comboios para incentivar o uso responsável do som e admite estar a reavaliar a sua posição. Recorde-se que, há quase uma década, a CP rejeitou a criação de carruagens específicas para passageiros que preferem viajar em silêncio.
Estas carruagens, embora idênticas às restantes, distinguem-se na fase de reserva de bilhetes, à semelhança das antigas divisões entre zonas de fumadores e não fumadores.
No transporte rodoviário, a Rede Expressos e a Flixbus admitem que o ruído também pode ser uma fonte de desconforto, mas indicam que as reclamações continuam pontuais.
A Rede Expressos já inclui vídeos a bordo com sugestões de boa conduta, incluindo avisos sobre o volume do telemóvel. Curiosamente, a empresa reconhece que nem sempre são os passageiros os culpados: em alguns casos, os próprios motoristas são apontados como fonte de ruído, por exemplo, devido ao volume do rádio.
Já a Flixbus recolhe sugestões dos passageiros através de um inquérito de satisfação após cada viagem. E algumas dessas propostas envolvem precisamente a recomendação explícita do uso de auriculares. A transportadora está a considerar incluir esse lembrete nos avisos de início de viagem, se a situação se tornar mais frequente.
“Recebemos sugestões para que seja feita uma recomendação aos passageiros sobre o uso de auriculares e sobre o volume de chamadas ou músicas”, adiantou uma fonte da empresa.
Apesar de ainda ser um tema secundário nas preocupações dos operadores, o desconforto causado por comportamentos sonoros está lentamente a ganhar espaço no debate sobre a qualidade da experiência nos transportes públicos portugueses.
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