Saúde
Setor social queixou-se ao Presidente da República de falta de meios e financiamento insuficiente
Os representantes do setor social disseram hoje ao Presidente da República que a instituições como lares de idosos faltam equipamentos de proteção, voluntários e financiamento, sublinhando que os reforços de 59 milhões de euros não são solução.
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“Financeiramente, estas instituições precisam de meios. Têm custos muito elevados. Só com o trabalho os custos significam 70% das despesas e os trabalhadores não são um problema, são uma solução”, afirmou o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS).
“Há a questão dos voluntários, precisamos de equipamentos de proteção individual e precisamos de facto que a comunidade não se desligue. Muitos vivem à volta destas instituições. Se isto colapsar, e não vai colapsar, então estaremos todos mal”, disse o padre Lino Maia.
O dirigente falava aos jornalistas no final de um encontro que hoje decorreu no Palácio de Belém, em Lisboa, e que se seguiu a uma reunião por videoconferência com o presidente da União das Misericórdias, Manuel Lemos, ambas para fazer um ponto da situação face à resposta do setor social no âmbito do combate à epidemia de covid-19.
Aos jornalistas, Manuel Lemos repetiu cinco vezes “ninguém está preparado para este embate”, uma ideia na qual é acompanhado por Lino Maia, que sublinhou a necessidade de meios humanos, deixando um apelo ao voluntariado e de proteção individual dos trabalhadores, pedindo equipamentos que protejam um universo de um milhão de pessoas no que diz respeito aos lares – 200 mil trabalhadores e 800 mil utentes.
O presidente da CNIS considera os testes importantes, mas põe a tónica nos equipamentos de proteção individual, necessários para proteger os trabalhadores de uma atividade de “contacto muito humano”, muito próximo de pessoa a pessoa.
E pede ao Estado que não esqueça o setor, nomeadamente compensando o aumento de custos: “O Estado não pode pensar que estas instituições fazem tudo e o Estado lava as mãos”.
O reforço de 59,2 milhões de euros para o setor social recentemente anunciado representa uma atualização de 3,5% dos contratos com as instituições de solidariedade social, que não chega para cobrir o aumento com os custos do trabalho, nomeadamente o aumento do salário mínimo nacional, que representa um acréscimo de 5,83% nas despesas, referiu.
“Não é com 3,5% de atualização nos acordos que enfrentamos a situação, a crise, 3,5% não é de modo nenhum suficiente. Podem neste momento ser uma espécie de injeção, mas é preciso, de facto, olhar para este setor”, defendeu.
Segundo Lino Maia, “há 40% de instituições que chegam ao fim do ano com resultados negativos”.
“Estas instituições não podem colapsar. Os 59 milhões de euros como uma injeção neste momento são oportunos, não solucionam. O meu medo é que se pense que injetando agora isto está tudo resolvido. Não está”, alertou.
Quanto à situação nos lares tutelados pelas misericórdias, estão a ser tomadas medidas de salvaguarda, como a garantia de um substituto por trabalhador em caso de necessidade, possível “na esmagadora maioria das misericórdias”, e uma rotação de equipas de 14 em 14 dias, cumprindo o tempo da quarentena, disse por seu lado Manuel Lemos.
Nos lares está ainda a ser criado um quarto à entrada para que os trabalhadores externos possam ali mudar de roupa à chegada e à saída, evitando contaminações.
Manuel Lemos sublinhou, no entanto, que os planos de contingência são mais fáceis de cumprir em locais onde não há problemas de recursos humanos.
Já a CNIS criou equipas de acompanhamento dos lares em cada distrito e garante que idosos e crianças não serão abandonados.
“Os idosos continuam a ser apoiados, podem ter a certeza de que não serão abandonados e é importante também que a sociedade não os abandone. As nossas crianças vão continuar a ter apoio nas instituições, os nossos trabalhadores vão continuar a vestir a camisola. Podemos ter, de facto, confiança. Não há mal que sempre dure”, considerou Lino Maia.
Ainda assim, o setor social está já a pensar na crise social que se vai seguir à crise sanitária e a pensar num “plano de emergência” que lhe dê resposta, antecipando problemas como o desemprego.
Em Portugal, há 43 mortes, mais 10 do que na véspera (+30,3%), e 2.995 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que regista 633 novos casos em relação a terça-feira (+26,8%).
Dos infetados, 276 estão internados, 61 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 22 doentes que já recuperaram
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