Opinião
Seremos livres para libertar o homem
É uma menina – assim começa a história de uma mulher. A coragem abre os caminhos aos desafios impostos ao género feminino. É vil o que ela suporta, as estatísticas mostram a fragilidade de um sistema social que exclui a mulher em quase todos os níveis. O debate está aberto, mas poucos dialogam, porque a mudança exige ousadia, mais do que isso: competência humana para discernir o que a evolução implica.
As guerras do século XXI propagam-se, mas as mulheres continuam fadadas a todas as formas de crueldade (física, emocional e psicológica), da opressão à humilhação. Vivemos inspirados pelo absurdo e o instinto primitivo de sobrevivência fala mais alto, querem calar-nos. As relações humanas tornam-se perigosas quando não se tem respeito. Essa é a história da mulher no mundo.
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A escritora e educadora russa, Nadezhda Mandelstam, “decidiu que é melhor gritar”. O silêncio ainda que seja legítimo “é o verdadeiro crime contra a humanidade”. Talvez o silêncio tenha sido a primeira manifestação de “loucura” na história da mulher. Ainda jogam pedras a “Madalena”, a herege, voluntariosa, escrava sexual, indigna da liberdade de pensamento e ação. Somos todas Madalenas. É preciso soltar a voz e as asas a esse pássaro que trazemos no peito.
Os homens não sabem, mas as mulheres sabem que estão nus, indefesos e acorrentados aos seus egos e dogmas, cativos de intolerâncias e preconceitos. A passividade é inútil, precisamos de vozes masculinas para engrossar o coro da liberdade feminina que é também da humanidade. Os aliados não têm género, o sangue é a corrente que nos une pela igualdade. A força não se delega, ela é uma atitude voluntária, um desprendimento responsável.
A visão global da condição da mulher é comemorar, também, as grandes conquistas ao longo da História. A França tornou-se o primeiro país a incluir o direito ao aborto na sua Constituição. A nova legislação inscreve na Constituição Francesa a “liberdade garantida da mulher de recorrer ao direito à interrupção voluntária da gravidez”. A vanguarda é perceber que a conquista dos direitos é um avanço civilizacional.
Nascer Mulher é, ainda, recear o futuro. O Dia Internacional da Mulher, 8 de março, é um grito contra o silêncio milenar que sufocou a humanidade. Chegará o dia em que seremos livres para libertar o homem dos seus espartilhos. Somos a construção de um sonho comum.
OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA
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