Opinião

Segundas-feiras sonolentas 

OPINIÃO | Bernardo Neto Parra | 2 dias atrás em 28-06-2024

Espero estar vivo até ao final do verão. Espero mesmo.  

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Para ser sincero, nem preciso de estar vivo tanto tempo, basta-me  chegar bem e vigoroso até ao dia 4 de agosto, data em que será lançado  o último episódio da 2.ª temporada da série House of the Dragon – Casa  do Dragão – transmitida pela HBO

Bem sei que se trata de uma motivação estúpida para se estar vivo,  uma razão fútil e superficial para desejar não morrer precocemente…  Mas é mais forte do que eu, para quem a sensação de ver um filme ou  uma série com a expectativa em ácidos não encontra paralelo noutras  experiências alternativas. 

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Na verdade, há poucas coisas que me motivem mais a garantir a minha  própria sobrevivência do que esperar pelo lançamento de tantas e tão  boas séries e filmes. “Vem aí o novo Star Wars? – Deixa-me ver se não  morro até lá”; “O novo filme do Tarantino estreia em dezembro? – Deus,  nosso Senhor, deixa-me viver até ao Natal”; “Sai hoje o novo episódio  de Succession? – Desculpa, pai, não sei se vou conseguir ir ao teu  aniversário.” 

Ora, House of the Dragon — a quem não conhece a série, recomendo  que tire férias com o único objetivo de consumir obsessivamente os 12  episódios já disponíveis em streaming — encontra-se na restrita lista de  fenómenos televisivos que me deixam mais eufórico do que uma  criança na entrada da Disneyland. 

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Na minha “Disneyland”, aliás, neste “Olimpo nerd” que me ocupa a  mente, reina uma total esquizofrenia. Ali, a amplitude das minhas  preferências obriga a que Harry Potter, George Constanza, Walter  White, Mia Wallace, Anakin Skywalker, Tommy Shelby, Sheldon  Cooper, Tóquio, Hank Moody, Frodo Baggins, Phoebe Buffay, Danny  Crane, Cersei Lannister, Michael Scott e Greg “The Egg” Hirsh  convivam harmoniosamente, todos dentro da minha cabeça,  recordando-me, pontualmente, de que os devo revisitar num futuro  próximo. 

Porém, por esta altura, não haverá tempo para visitar ninguém. Pelo  contrário, a recomendação da minha mente é para não sair de casa; ou,  antes, da minha sala; ou, melhor ainda, do meu sofá. Estamos em pleno  lançamento da segunda temporada de House of the Dragon e,  em momentos como este, quando o streaming trafica uma nova  temporada, eu já tenho muito por onde me coçar. 

Agora, vivo quase na condição de um toxicodependente, sem resquício  de livre-arbítrio, condicionado à obsessão de consumir novas doses de  entretenimento televisivo que me deixem a alucinar, com a mente  entorpecida, ocupada apenas pelas fantasias de dragões prodigiosos,  batalhas sanguinárias e golpes palacianos que me colem o queixo ao  chão. 

Sim, “consumir” é o verbo mais adequado para descrever esta ânsia compulsiva, o processo que me leva a fechar as portas ao mundo,  correr as persianas, pôr o telemóvel em modo voo e recostar-me no  sofá, de pálpebras escancaradas, concentrado apenas em CONSUMIR  aquele pedaço de arte que masturba a minha imaginação com o vigor  de quem quer satisfazer a todo o custo.  

E, para piorar a minha situação, em Portugal, os episódios semanais  de House of the Dragon são lançados às 02h00 da madrugada,  nas noites de domingo para segunda-feira, o que torna o meu início de  semana ainda mais difícil do que é habitual. 

Por isso, até que esta orgia de dragões e fantasia termine — repito, 4  de agosto será o derradeiro episódio desta nova temporada — peço  que perdoem as minhas ressacas sonolentas de segunda-feira. A culpa  não é minha…  

Responsabilizem antes o George R.R. Martin, o Daemon Targaryen, a  Vhagar, ou mesmo a HBO, o dealer que continua a alimentar a minha  adição audiovisual. A culpa é deles!

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