Opinião
Segundas-feiras sonolentas
Espero estar vivo até ao final do verão. Espero mesmo.
Para ser sincero, nem preciso de estar vivo tanto tempo, basta-me chegar bem e vigoroso até ao dia 4 de agosto, data em que será lançado o último episódio da 2.ª temporada da série House of the Dragon – Casa do Dragão – transmitida pela HBO.
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Bem sei que se trata de uma motivação estúpida para se estar vivo, uma razão fútil e superficial para desejar não morrer precocemente… Mas é mais forte do que eu, para quem a sensação de ver um filme ou uma série com a expectativa em ácidos não encontra paralelo noutras experiências alternativas.
Na verdade, há poucas coisas que me motivem mais a garantir a minha própria sobrevivência do que esperar pelo lançamento de tantas e tão boas séries e filmes. “Vem aí o novo Star Wars? – Deixa-me ver se não morro até lá”; “O novo filme do Tarantino estreia em dezembro? – Deus, nosso Senhor, deixa-me viver até ao Natal”; “Sai hoje o novo episódio de Succession? – Desculpa, pai, não sei se vou conseguir ir ao teu aniversário.”
Ora, House of the Dragon — a quem não conhece a série, recomendo que tire férias com o único objetivo de consumir obsessivamente os 12 episódios já disponíveis em streaming — encontra-se na restrita lista de fenómenos televisivos que me deixam mais eufórico do que uma criança na entrada da Disneyland.
Na minha “Disneyland”, aliás, neste “Olimpo nerd” que me ocupa a mente, reina uma total esquizofrenia. Ali, a amplitude das minhas preferências obriga a que Harry Potter, George Constanza, Walter White, Mia Wallace, Anakin Skywalker, Tommy Shelby, Sheldon Cooper, Tóquio, Hank Moody, Frodo Baggins, Phoebe Buffay, Danny Crane, Cersei Lannister, Michael Scott e Greg “The Egg” Hirsh convivam harmoniosamente, todos dentro da minha cabeça, recordando-me, pontualmente, de que os devo revisitar num futuro próximo.
Porém, por esta altura, não haverá tempo para visitar ninguém. Pelo contrário, a recomendação da minha mente é para não sair de casa; ou, antes, da minha sala; ou, melhor ainda, do meu sofá. Estamos em pleno lançamento da segunda temporada de House of the Dragon e, em momentos como este, quando o streaming trafica uma nova temporada, eu já tenho muito por onde me coçar.
Agora, vivo quase na condição de um toxicodependente, sem resquício de livre-arbítrio, condicionado à obsessão de consumir novas doses de entretenimento televisivo que me deixem a alucinar, com a mente entorpecida, ocupada apenas pelas fantasias de dragões prodigiosos, batalhas sanguinárias e golpes palacianos que me colem o queixo ao chão.
Sim, “consumir” é o verbo mais adequado para descrever esta ânsia compulsiva, o processo que me leva a fechar as portas ao mundo, correr as persianas, pôr o telemóvel em modo voo e recostar-me no sofá, de pálpebras escancaradas, concentrado apenas em CONSUMIR aquele pedaço de arte que masturba a minha imaginação com o vigor de quem quer satisfazer a todo o custo.
E, para piorar a minha situação, em Portugal, os episódios semanais de House of the Dragon são lançados às 02h00 da madrugada, nas noites de domingo para segunda-feira, o que torna o meu início de semana ainda mais difícil do que é habitual.
Por isso, até que esta orgia de dragões e fantasia termine — repito, 4 de agosto será o derradeiro episódio desta nova temporada — peço que perdoem as minhas ressacas sonolentas de segunda-feira. A culpa não é minha…
Responsabilizem antes o George R.R. Martin, o Daemon Targaryen, a Vhagar, ou mesmo a HBO, o dealer que continua a alimentar a minha adição audiovisual. A culpa é deles!
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