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Se os seguidores do TikTok elegessem deputados o Chega elegeria 79.8% do Parlamento
O Chega e, em particular, o TikTok é o território onde este partido melhor se desenvolve: O seu líder, André Ventura, teve um crescimento de seguidores entre 2023 e 2023 de mais de 409% e de “gostos” de 1253%.
Aliás, André Ventura tem tantos “Gostos” que o TikTok apenas exibe o número redondo de 4000000 (4 milhões) sendo seguido pela também deputada do Chega Rita Matias com crescimentos de 409% e 237% respectivamente.
A grande distância está o deputado socialista André Pinotes Baptista com crescimentos notáveis mas criando no TikTok conteúdos, sobretudo, de futebol sendo seguido a pouca distância pela deputada bloquista Joana Mortágua.
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O mesmo estudo indica que, se os seguidores elegessem deputados o Chega elegeria 79.8% do Parlamento, o BE 8.9%, o PS 4.7%, o PSD apenas 3.5%, a IL 1.7%, o PAN 1.3% e os restantes (PCP e CDS) zero, ou apenas um (Livre) parlamentar.
@andre_ventura_oficial ♬ som original – andre_ventura_oficial – andre_ventura_oficial
@ritamatiasvlog Quem tambem acha que a @Rita Maria Matias é a deputada mais elegante da assembleia da república? ❤️🙅🏼♀️💣 #fyp #foryou #portugal #direita #ritamatias
♬ som original – Rita Matias Vlogs
O TikTok é hoje em dia extremamente popular entre jovens de todos os países do mundo, levando a que campanhas políticas (como as presidenciais na Roménia) o usem como uma ferramenta essencial para conquistar eleitores. Muitos jovens adultos recorrem à plataforma para se informarem sobre política e outras notícias, conforme revelou um inquérito do Pew Research Center realizado em março de 2024 que revelou que:
1. Cerca de 48% dos utilizadores de TikTok com idades entre os 18 e os 29 anos afirmaram que esta é uma razão, seja ela maior ou menor, para estarem na plataforma. Este número desce para 36% entre os utilizadores dos 30 aos 49 anos e é ainda menor em faixas etárias mais velhas.
2. Metade dos utilizadores com menos de 30 anos usam o TikTok para se informarem. Este número é reduzido nas faixas etárias mais avançadas, com apenas 23% dos utilizadores com mais de 65 anos relatando o mesmo.
3. Quase metade dos utilizadores da plataforma (45%) dizem ver algum tipo de conteúdo político. No entanto, apenas uma pequena parte (6%) afirma que a maior parte do que vê é sobre política. Entre os mais jovens, 50% reportam ver conteúdo político, em comparação com 39% dos utilizadores com 50 anos ou mais.
4. Quanto a partilhar conteúdo político, as percentagens são menores. Apenas cerca de 7% dos utilizadores com idades entre 18 e 29 anos partilham algo relacionado com política, enquanto 63% de todos os utilizadores dizem não partilhar nenhum tipo de conteúdo.
Utilizadores com menos de 30 anos destacam-se como os mais propensos a ver tanto notícias de última hora quanto opiniões sobre eventos actuais sendo que este fenómeno está provavelmente na base da conhecida tendência dos sub-35 em votarem em partidos mais extremistas que se verifica, por exemplo, em Portugal e na Roménia (curiosamente foram também estas camadas jovens que apoiaram eleitoralmente o referendo constitucional que deu plenos poderes a Hitler).
O impacto do TikTok na democracia é algo que devia estar no centro do debate político. O TikTok está cada vez mais a consolidar-se como uma plataforma para o consumo de notícias e debates políticos, especialmente entre os mais jovens. Contudo, a perceção sobre o impacto da plataforma na sociedade varia bastante entre faixas etárias e contextos políticos sendo que os jovens tendem a ter uma visão mais positiva mas são, paralelamente, também que parece ser mais facilmente arrastado pelos candidatos e partidos que estão mais presentes na rede social. Contudo, ainda não há acções ou iniciativas legislativas conhecidas em Portugal e a resposta europeia continua a ser reactiva ou pouco eficaz.
O que pode ser conhecido por parte de quem tem acesso directo (ByteDance) ou indirecto (APTs e Governo) aos servidores do TikTok?
1. Se a password no TikTok é partilhada com outras aplicações será possível entrar nessas aplicações com a password do TikTok.
2. Se publicar vídeos privados de locais de segurança (bases militares, instalações de energia, fábricas ou qualquer local de interesse es
tratégico) mesmo sendo privado este conteúdo está ao alcance dos gestores da rede social.
3. Os trackers (cookies) do TikTok estão presentes em muitos sites terceiros permitindo conhecer o site, o histórico de navegação, a cidade do utilizador e como é que este entrou e saiu do site.
4. O TikTok ao ser instalado no dispositivo móvel pede acesso à câmara e ao microfone: isso permite saber – potencialmente – informações ambientais e, eventualmente, o áudio do que rodeia o telemóvel.
5. A criar uma conta o TikTok tenta aceder aos contactos (nomes e números) e Facebook no telemóvel: se tal for autorizado a ByteDance pode passar a saber os nomes e números que constam no telemóvel: Se forem os de ministros, responsáveis de segurança ou de empresas críticas estes podem depois ser visados por campanhas de phishing e os serviços de informações podem criar “redes” de contactos que serão usadas para determinar padrões de influência e comportamento passíveis de serem usados em operações de recrutamento por chantagem (p.ex. se nestas listas constaram os nomes de conhecidos traficantes ou de serviços de acompanhamento ou prostituição).
6. As mensagens trocadas no TikTok não são encriptadas end-to-end: isto é: podem ser lidas por quem controla a rede social: por isso quando um político recebe ou envia mensagens tem que ter em conta que, em tese, estas podem ser lidas pelos serviços de informações de Pequim e/ou pelos engenheiros da ByteDance.
7. Até 2020 o TikTok recolhia a localização e o histórico do GPS (ou seja: sabia onde estava cada utilizador, a cada momento, com uma precisão de alguns metros). Estes dados deixaram de ser recolhidos mas continuam nos servidores da ByteDance.
8. O TikTok sabe qual é o identificador (IMEI) e modelo do telemóvel o que permitirá a quem tem esta informação identificar o equipamento nas antenas das redes móveis (em visita a China: p.ex.) e direccionar campanhas de controlo do equipamento explorando vulnerabilidades do equipamento usado, neste caso, pelo político ou governante.
9. O endereço de e-mail do utilizador fica ao alcance de quem tem acesso aos logs e este pode ser usado para campanhas de phishing muito direcionadas e, logo, de alta eficácia que poderão levar à instalação de backdoors ou de software malicioso.
10. Dada a possibilidade de o feed do TikTok ser manipulado por forma a favorecer conteúdo que favoreça as posições do governo chinês e diminua a relevância de outros conteúdos (isto foi descoberto em 2019) o político que usar o TikTok pode ver a sua opinião condicionada ou orientada consoante o interesse desta potencia estrangeira.
O que pode ser feito?
(propostas já enviadas a todos os eurodeputados portugueses no Parlamento Europeu: sem resposta)
1. A UE pode proibir o uso do TikTok no seu território. Seria sem precedentes e uma operação típica (e comum) de regimes autocráticos como o russo (que parece ter manipulado as eleições romenas) ou chinês (que pode ter ajudado a Rússia nesta operação dando orientações ao TikTok para não agir) mas dada a escala dos riscos envolvidos e o que sucedeu nos EUA com Trump e na Roménia com Georgescu está é, provavelmente, a melhor resposta rápida e urgente.
2. A UE pode fazer o que – ironicamente – a China está já a fazer e obrigar as plataformas a regular os seus algoritmos: https://www.scmp.com/news/china/politics/article/3287929/china-sets-deadline-big-tech-clear-algorithm-issues-close-echo-chambers?module=top_story&pgtype=homepage de forma a “evitar algoritmos de recomendação que criem bolhas de eco”, induzam conteúdos que criem adição e permitam a manipulação de itens em tendência.
3. A UE pode obrigar as plataformas a tornarem públicos os seus algoritmos.
4. A UE pode regular a entrega de conteúdo por algoritmos. Os algoritmos de plataformas como YouTube, Facebook, TikTok, Reddit e outras são projectados numa base muito simples: “manter as pessoas na plataforma e para apresentar a quantidade máxima de anúncios”. Ora, a maneira mais fácil de manter alguém envolvido é jogar com as emoções e, em particular, com a raiva e a ira criando um ciclo de “pessoas irritadas > mais anúncios” o que gera a “radicalização” eleitoral que observamos praticamente em todos os países, e habita dentro destas “bolhas de eco”.
O estudo da CpC pode ser acedido directamente aqui
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