Saúde
Santana Lopes dá milhões a universitária de Coimbra
A Misericórdia de Lisboa anunciou hoje que atribuiu os Prémios Santa Casa Neurociências, no valor de 400 mil euros, às equipas de cientistas lideradas por António Gomes Salgado (Universidade do Minho) e Ana Cristina Rego (Universidade de Coimbra).
Os prémios, dois, que funcionam como bolsas de investigação, foram instituídos este ano pela primeira vez e são considerados as maiores distinções de incentivo à investigação médica e científica em neurociências em Portugal.
O Prémio Melo e Castro, no montante de 200 mil euros, foi para António Gomes Salgado e a sua equipa, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde, da Universidade do Minho, pelo desenvolvimento de uma terapia integrada para as lesões vertebro-medulares – como as paralisias e as tetraplegias – com biomateriais, células estaminais mesenquimatosas e neuroprotetores.
O Prémio Mantero Belard, igualmente de 200 mil euros, foi para a equipa liderada por Ana Cristina Rego, do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, pelo estudo da produção nos neurónios de radicais livres associados à disfunção das mitocôndrias, na doença neurodegenerativa de Huntington.
Os trabalhos premiados foram escolhidos por um júri presidido pelo neurocirurgião João Lobo Antunes, entre 79 projetos a concurso, envolvendo um total de 289 investigadores, de acordo com uma nota da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, entidade promotora dos prémios.
Em declarações à agência Lusa, o investigador António Gomes Salgado disse que o trabalho da sua equipa pretende “integrar diferentes metodologias que tentam induzir a regeneração” do tecido nervoso danificado por lesões vertebro-medulares.
“Usamos agentes neuroprotetores para proteger o tecido nervoso que sofreu uma lesão e que, se não for protegido, vai ficar mais danificado e impedir a regeneração, e usamos células estaminais e biomateriais para induzir a regeneração do tecido nervoso, para que, se tudo correr bem, possa haver ganhos de função motora, para que se possa voltar a ganhar alguma mobilidade, que é afetada quando ocorrem lesões traumáticas vertebro-medulares”, explicou.
As lesões vertebro-medulares, como paralisias e tetraplegias, ocorrem na medula espinal, fruto de quedas ou acidentes, e afetam a capacidade motora, que a equipa chefiada por António Gomes Salgado quer tentar pelo menos recuperar parcialmente (como a mobilidade de uma mão ou de um braço).
A equipa do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde, formada por 15 especialistas nas áreas de neurologia, anestesia, ortopedia, biologia, química e engenharia biomédica, propõe-se testar, numa primeira etapa, a sua metodologia em ratinhos.
O projeto do grupo de investigação de Ana Cristina Rego visa estudar o “stress” oxidativo, a produção nos neurónios de radicais livres, associados à disfunção das mitocôndrias – “organelos que produzem a maior parte da energia nas células e que são muito importantes a nível das células nervosas”.
A meta é, segundo a bióloga, “tentar avaliar mais precocemente” este processo em animais e em doentes de Huntington sem sintomas.
A doença de Huntington é uma patologia neurodegenerativa genética e rara, que, numa determinada fase, se caracteriza por exacerbação de movimentos, acabando por levar à demência.
Ana Cristina Rego assinalou à Lusa que a doença serve de modelo, uma vez que “alguns dos processos” degenerativos que ocorrem nela são comuns a outras patologias neurodegenerativas, como a de Alzheimer e a de Parkinson.
O Prémio Melo e Castro visa distinguir o estudo que se evidenciar na área das lesões vertebro-medulares, enquanto o Prémio Mantero Belard destina-se ao melhor projeto de investigação sobre doenças neurodegenerativas ligadas ao envelhecimento.
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