Coimbra

Ritmos e vozes do mundo na Estreia dos Griot 3000

Notícias de Coimbra | 26 minutos atrás em 14-02-2025

Imagem: CCB

Num eixo entre Brasil, Portugal e África surgiu o sexteto Griot 3000, que se estreia ao vivo no sábado, em Lisboa, e que convoca jazz, improvisação, a narração oral e uma consciência política e social.

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Na génese dos Griot 3000 está o músico e MC brasileiro Rodrigo Brandão, há cinco anos radicado em Portugal, onde conheceu e criou pontes com vários músicos, em particular no jazz, como contou em entrevista à agência Lusa.

A ideia de formar os Griot 3000 partiu de uma vontade de Rodrigo Brandão em honrar uma das suas principais influências, o percussionista brasileiro Naná Vasconcelos (1944-2016): “A resposta está em Naná. A presença é tão grande, tão importante, tão vasta, que não poderia ser esquecida, foi uma coisa que me moveu para a frente”.

Depois falou com o trompetista português Luís Vicente e “um músico foi puxando outro”, entrando o guineense Braima Galissá (kora), o brasileiro Thiago Leiros Costa (guitarra), a portuguesa Carla Santana (eletrónica) e o senegalês Dudu Kouate (percussão) que, em ocasiões distintas, já tinham trabalhado em formações e contextos diferentes.

Além do capital artístico de cada um dos músicos deste sexteto, há ainda, como referencial de ligação, o trompetista norte-americano Don Cherry (1936-1995) e o álbum “Organic Music Society” (1972), no qual participou Naná Vasconcelos.

“A partir disso, a gente começou a entender essa inspiração e a destravar várias conexões dela na vida real, como por exemplo, o valor da tradição oral, sendo passada especialmente numa era de tanta informação digital, em que muitas coisas se perdem; aquela coisa da história contada, olhando no rosto, por aquele que viveu. Esse tipo de riqueza pode não ser muito palpável, mas é muito profunda”, sublinhou.

Nos Griot 3000, Rodrigo Brandão assume a palavra dita (‘spoken word’) como uma forma mais abstrata de tratar a lírica de uma música. Lembrou que se considera um MC (Mestre de Cerimónias) sem amarras e que, apesar de a sua “espinha dorsal” ser o hip hop, com o qual cresceu em São Paulo, é no jazz e na experimentação que se encontra.

“Em determinado momento eu comecei a notar a ausência dos elementos que despertaram a minha paixão [pelo hip hop]. Uma delas é a questão da contestação política. A outra é a questão de ser uma música experimental. […] Quando chegou nessa coisa de o hip hop não ser mais uma música, de modo geral, mais contestadora e que tomou o lugar do rock no panteão do pop, tudo isso me interessa menos. Vivi uma crise profunda por causa disso”, lembrou.

Acumulando colaborações com nomes como Nação Zumbi, Prince Paul (De La Soul), Sun Ra Arkestra, Brian Jackson, Tony Allen e Pharoah Sanders, Rodrigo Brandão descobriu em Portugal uma cena jazz “riquíssima”.

“A linguagem que fala comigo, que dialoga com o meu trabalho, que encontrei aqui foi a cena jazzística, que é muito rica tanto em termos de artistas como em termos de muitos festivais. O jazz acontece em Portugal!”, exclamou.

Rodrigo Brandão fala de uma inevitabilidade pessoal: “O posicionamento político é inevitável para mim. É a política da forma como a gente enxerga o mundo, das escolhas que a gente faz, dos assuntos que a gente escolhe falar. Sou contra qualquer forma de preconceito. O que eu já vivi e senti mais na minha pele é o racismo”.

A viver em Portugal há cinco anos com a família, o músico brasileiro diz que não pode “dar-se ao luxo de não notar a ascensão drástica da xenofobia”.

“Então luto contra a xenofobia de forma inflamada. As lutas contra preconceitos e opressões elas gritam alto para mim, sejam a comunidade LGBT, a questão da Palestina, a questão do Sudão ou do pobre preto brasileiro que até hoje é chacinado pela polícia”, enumerou.

Sobre a estreia de Griot 3000, no sábado no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, Rodrigo Brandão anuncia um “encontro”: “Temos uma linha direta na pauta lírica, mas a ideia da música é a composição em tempo real, que é diferente da ‘jam session’”.

“É a ideia de que a gente vai compondo uma música que pode ser gravada e pode ser ouvida depois de gravada. Mas a gente vai fazer isso em palco, em tempo real. A busca é essa”, descreveu o MC.

Depois da atuação em Lisboa, os Griot 3000 seguem para Coimbra, onde, na próxima semana, fazem uma residência artística no Salão Brazil para gravar e preparar um álbum, e onde tocam também no dia 21. No dia 22 apresentam-se no gnration, em Braga.

Ainda sem data de edição, o álbum dos Griot 3000 sairá pela JACC Records, a editora que nasceu na associação cultural Jazz ao Centro Clube, em Coimbra.

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