Cidade
Reitor pede para não ser aplaudido no Dia da Universidade de Coimbra
Vamos começar pelo final da história: a Universidade de Coimbra está a sair mais forte da crise e saberá resolver com energia os desafios que temos pela frente. Foi com esta frase lapidar que João Gabriel Silva terminou a sua intervenção na cerimónia de aniversários dos 727 anos da Universidade de Coimbra.
O Magnifico Reitor aproveitou ainda o seu discurso para dar :
“Uma nota sobre a estrutura desta cerimónia. Em relação ao ano passado o Senado entendeu introduzir dois ajustes, que concretizaremos este ano. No final, em vez de um fim abrupto, terminaremos com um cortejo académico até à sala do Senado, nos moldes habituais das outras cerimónias académicas. A política de aplausos também será diferente. Foi opinião maioritária que, como é tradicional, não deveria haver aplausos após as intervenções, mas que na fase de entrega das cartas de curso aos doutorados e da homenagem aos jubilados e aposentados seria de o fazer. O apreço pelos palestrantes deve ser, como é de uso, mais intelectual, mais interior, mas aos novos doutores e aos jubilados e aposentados devemos poder exteriorizar o nosso apreço pelo seu percurso. Portanto, peço que não me aplaudam mesmo que achem bem o que eu disse, mas se sintam livres de expressar dessa forma o apreço por quem é distinguido já a seguir.”
Podemos acrescentar que João Gabriel Silva terá feito mesmo um dos mais breves discursos de aniversário da Universidade de Coimbra, tendo ocupado parte dele a rebaptizar a “Sala dos Capelos” que agora designa “Sala dos Atos Grandes”:
Foi muito positiva a reação à experiência que fizemos no ano passado de realizar aqui a comemoração do dia da Universidade, pelo que o Senado entendeu que assim deve continuar a ser. Este espaço tem vindo, ao longo dos anos, a deixar-me uma impressão cada vez mais profunda. Penso que poucos de nós têm consciência plena do significado profundo desta sala e do que já aqui se passou ao longo dos séculos. Eu sinto que ainda só estou à superfície dessa compreensão, e não me canso de tentar saber mais. Manifestei por isso, no ano passado, um menor apreço pela designação, no meu entendimento originalmente algo depreciativa, de “Sala dos Capelos”, e a minha preferência pela designação “Sala Grande dos Atos”. Mas deparei-me, entretanto, em mais do que um texto do século XIX, com a designação de “Sala dos Atos Grandes”. Penso que esta última designação é muito mais fecunda…
A outra parte do 1/4 de hora de discurso universitário de João Gabriel Silva foi preenchida com a já habitual resenha história e as tradicionais saudações da praxe-
Não me tenho cansado de dizer que, se nos mantemos bem vivos ao fim de 727 anos, foi porque, coletivamente, sempre nos soubemos reinventar para responder às necessidades e expectativas da sociedade. Somos campeões da adaptação, sempre alerta para perceber o sentido dos tempos.
O nosso maior desafio atual é conseguir, com o máximo de qualidade, manter um ritmo regular de contratação de novos professores e de abertura de lugares para progressão na carreira docente.
Os novos contratos de trabalho dos investigadores são, pelo menos, 70% mais caros do que os anteriores contratos de bolsa, e o Governo ainda não apresentou uma explicação clara para a origem dos fundos adicionais que são precisos para isso. Para encargos novos é preciso dinheiro novo; 70% de aumento de encargos não é acomodável nos orçamentos atuais sem uma forte diminuição do número de investigadores contratados. Esta é a razão essencial pela qual ainda nenhuma universidade abriu qualquer concurso ao abrigo desta nova lei, e não o fará tão cedo. Não há omeletes sem ovos.
Como Universidade global que é, e quer ser cada vez mais, o que vai no mundo diz particular respeito à Universidade de Coimbra. O isolacionismo que se instala é inquietante. A ideia de que o mal está nos diferentes, que se fecharmos as fronteiras os afastamos e os nossos problemas se resolvem, é tão contraditada pela história que se torna quase incompreensível como é possível que haja tanta gente a pensar assim.
A coreógrafa, professora e programadora Madalena Victorino, vencedora do Prémio Universidade de Coimbra 2017, no valor de 25 mil euros, recebeu o galardão e fez o “discurso da sua vida”: “As Danças dos Dias: Diário de um percurso de trabalho sobre o corpo comum, a sua imaginação e a sua luz”.
Para dar corpo às palavras que vos vou dizer, fiz o exercício de pensar a minha própria vida, também ela como um corpo.
Pela natureza simétrica que este tem, utilizarei a estratégia do díptico.
Mas, pela assimetria, responsável pela dinâmica da vida, porque desalinha o cor- po do seu eixo e o faz ou quase cair ou quase subir, criando assim, um arco aéreo de energia, que nos provoca com o sentido oblíquo das coisas, vou utilizar esse eixo imaginário, o eixo diagonal, linha que arrebata o corpo do seu centro para uma zona intensamente dinâmica, a zona da dança, vou usar o valor da diagonal, portanto, para contar o meu trajecto
O evento vespertino, que demorou umas 3 horas, começou com a intervenção de Ernesto Costa, em representação do Conselho Geral da Universidade de Coimbra.
Temos de refletir sobre a atualidade e pertinência da atual organização da oferta formativa, temos de promover uma verdadeira reorganização dos saberes, que quebre as barreiras artificias atualmente existentes e promova uma formação completa de cidadãos e cidadãs livres e competentes. Temos de refletir sobre a atualidade e pertinência das propinas, sobre o modelo de financiamento, sobre o RJIES. São estes, na minha opinião, os desafios maiores que o Conselho Geral e toda a comunidade
académica vão ter de discutir nos tempos mais próximos.
No final da cerimónia foram entregues das cartas doutorais aos novos Doutores e homenageados os aposentados e jubilados, cujas imagens poderá ver a partir das 21 horas no nosso Facebook.
A 1 de março arranca a 19.ª Semana Cultural da Universidade, dedicada ao tema “Quem Somos?”, destacando-se neste dia o concerto pela Orquestra Académica da Universidade de Coimbra que interpretará obras de Francisco Lacerda, Joly Braga Santos, Zeca Afonso e Gustav Holst.
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