Coimbra
Reitor de Coimbra diz que pleno emprego para doutorados na academia não é viável
O pleno emprego para doutorados no sistema científico e académico “não é realista, não é viável, nem é desejável”, defende o reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel Silva, considerando que não vale a pena criar essa “ilusão”.
O reitor da Universidade de Coimbra, que termina a 01 de março o seu segundo e último mandato à frente da mais antiga instituição de ensino superior do país, considera que “qualquer ilusão de que se vai arranjar mecanismos de pleno emprego doutorado no sistema de ensino [superior] não é realista, não é viável – não há recursos para isso -, nem é desejável”.
Para João Gabriel Silva, “não vale a pena ter a ilusão de que os sistemas científico ou académico vão conseguir absorver todos os doutorados”, já que não há espaço no meio para acolher todos os doutorados que são formados em Portugal.
“A Universidade de Coimbra tem cerca de 1.000 professores de carreira. Ora, se um professor de carreira tem uma carreira de cerca de 35 anos, quer dizer que todos os anos, em regime estável, se aposentariam perto de 30 pessoas. A Universidade, atualmente, doutora todos os anos 250 pessoas”, vinca.
Nesse sentido, considera que não é realista os sistemas de ensino superior e de investigação absorverem a grande fatia de doutorados que todos os anos se formam nas universidades portuguesas.
No entanto, acredita que se deveria continuar a apostar na integração dos doutorados no mercado de trabalho, “porque, num mundo altamente complexo, são pessoas com capacidade de tratar de problemas complexos muito acima da média”.
Apesar de considerar que ainda não há o reconhecimento devido dessa utilidade por parte das empresas, “já se fez bastante caminho”.
Em declarações à Lusa, o reitor afirmou que, ao longo destes oito anos, viu sempre “o financiamento efetivo do Estado” a descer na área do ensino superior.
“Primeiro, com a ‘troika’ e, depois, com o atual Governo, em que o valor nominal aumentou, mas, na prática, encurtou o orçamento, porque os encargos subiram mais depressa do que o financiamento”, vincou.
No entanto, sublinha, o problema no setor não está tão centrado na falta de recursos, mas na eficiência e na forma como estes são utilizados.
“Há muitas ineficiência no sistema” a uma nível geral, notou João Gabriel Silva, considerando que é necessário “aproveitar da melhor forma possível os recursos”.
Nesse sentido, ao longo dos oito anos enquanto reitor, entende que o obstáculo maior que encontrou não foi político, mas sim cultural.
“Ainda há muita gente que acha que uma coisa são professores e outra são investigadores”, constatou, considerando que as universidades, quando contratam alguém, não devem contratar um professor “para dar uma disciplina específica”, mas alguém capaz de “explorar e aprofundar áreas de conhecimento”.
No fim de oito anos de mandato, João Gabriel Silva gosta de acreditar que tenha contribuído para uma afinação e um aumento de escala da componente de transferência de conhecimento produzido na universidade para a sociedade.
“Para além de encararmos isso com naturalidade, devemos esperar que as pessoas o façam. Trata-se de achar que deve ser uma preocupação de qualquer pessoa que está a fazer investigação – não necessariamente de todos – mas é algo que deve estar presente, até porque a sociedade espera cada vez mais das universidades essa ajuda”, apontou.
João Gabriel Silva, formado em engenharia eletrotécnica em Coimbra, em 1980, coordenou o projeto do primeiro computador português e foi diretor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
Em 2011, foi eleito reitor da Universidade de Coimbra.
Durante oito anos, teve como uma das suas principais bandeiras a internacionalização da Universidade de Coimbra, seja a partir da investigação, seja através da captação de estudantes estrangeiros.
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