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“Queria-lhe vestir o vestidinho. Deus não quis”. Mãe de bombeira de V.N. Oliveirinha quebra silêncio após morte

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 1 mês atrás em 13-11-2024

Imagem: TVI

17 de outubro. Uma data que famílias e o concelho de Tábua jamais esquecerá. Três bombeiros, Sónia Melo, Susana e Paulo, de Vila Nova de Oliveirinha, morreram a combater as chamas.

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No programa da TVI, “Dois às Dez“, a mãe de Sónia e o noivo de Sónia, Francisco, quebraram o silêncio e falaram da dor quase dois meses depois.

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Francisco perdeu o amor da sua vida. Gracinda perdeu uma filha e um genro. “Eu persenti, eram 11 horas, vi muito fumo e pensei ‘que horror deve estar para lá”.

Gracinda ligou para a filha, mas não atendeu. “Era um aperto, um mal-estar, maldisposta”. Até que, o telefone volta a tocar, mas não eram boas notícias: “O carro apareceu mas a Sónia, o Paulo e a Susana estão mortos”, recorda.

“É uma dor, um choque, não há explicação, perder o meu genro e a minha filha”, conta. Lamenta o facto de não ter tido oportunidade de se despedir dela. “Queria-lhe vestir o vestidinho e não consegui […] mas Deus não quis”, explica.

“Não fiquei revoltada com ninguém, estava revoltada era com fogo que tirou a vida à minha filha”. Gracinda até se questiona: “Será que precisavam dela lá em cima?”.

Agora, visita o local onde o fogo ceifou a vida a Sónia. “Sinto-me bem em ir lá. É ali que eu rezo. Ali é que ficou parte da minha filha”.

“Eles devem ter desmaiado com o fogo e quero crer que não sentiu a morte […] Se eu tivesse a certeza que ela sofreu com o fogo…não aguentava esta dor”, frisa.

O Paulo, a Susana e a Sónia “dão-me força para continuar a viver e a tomar conta das minhas netas”, conclui.

Lavado em lágrimas, Francisco recorda a companheira: “A Sónia era tudo […] Em junho íamos casar, estava tudo preparado e acabou”.

Francisco voltou a pisar o local onde tudo aconteceu e reviveu o momento. “Era um pequeno foco de incêndio, mas entretanto, com a mudança de vento, em questão de segundos, tudo mudou”.

“O chefe avisou para fugir e gritei por eles […] Não respondiam era porque algo estava mal”, relembra.

Foi junto a uma árvore que localizou o corpo de Susana e ao pé de três eucaliptos estava o que não queria ver: o cunhado e a noiva mortos.

“Se Deus realmente existisse … eram tão boas pessoas, porque foram?”, lamenta.

O casaco que vestiu naquele dia, primeira e última vez, ainda tem o cheiro a queimado, cheiro a tragédia. Foi o primeiro dia que Francisco saiu para combater um fogo.

O comandante da corporação de V.N. Oliveirinha, Nuno Santos era irmão de Paulo. Confessa que pensou “em desistir, em atirar a toalha ao chão”, mas “pelos meus bombeiros consegui continuar, para os honrar, para tomar conta da população”.

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