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Querem despejar luso-palestiniano que trouxe filha bebé de Gaza
Uma campanha está a tentar recolher apoios para evitar o despejo do lusopalestiniano Ahmed Ashour da casa em Lisboa onde vive com a sua filha de um ano, que perdeu mãe e irmãos nos bombardeamentos de Gaza.
“Nour, a bebé luso-palestiniana que chegou a Portugal no final de novembro passado após a mãe e irmãos terem morrido nos bombardeamentos da faixa de Gaza, encontra-se em risco de ser retirada ao pai por este estar desempregado e com rendas em atraso que motivaram uma ação de despejo”, afirmou Ricardo Vieira, o promotor da campanha, disponível em https://ppl.pt/causas/bebe-gaza.
O objetivo é “tentar impedir que esta criança que, com um ano de idade, já perdeu mãe, irmãos, avós e tios, perca, também, o seu pai”, acrescentou o promotor da campanha, que está disponível até 16 de abril e já recolheu cerca de 3.400 euros (até às 16:00 de hoje), com uma meta final de 16 mil euros.
“As coisas estão muito difíceis”, admitiu à Lusa Ahmed Ashour, que está a tentar retirar um sobrinho de Gaza.
No enclave palestiniano bombardeado por Israel, Ahmed Ashour ainda tem cerca de 20 familiares.
“É muito complicado, umas vezes consigo falar, outras vezes não. E quando não consigo falar com eles temo sempre o pior”, explicou o luso-palestiniano, que perdeu a mulher, dois filhos, os pais e dois irmãos nos bombardeamentos.
Cuidar da bebé e apoiar a família têm sido a sua prioridade.
“Não tenho conseguido pagar as coisas e toda a ajuda é bem-vinda. Preciso mesmo de me aguentar”, disse, agradecendo ao promotor da campanha.
A bebé “sobreviveu miraculosamente a três bombardeamentos diferentes em Gaza e em que morreram praticamente todos os familiares e está desde o final de novembro em Portugal com o seu único familiar direto sobrevivente, o seu pai”, pode ler-se na página da campanha de angariação de fundos.
Ahmed “encontra-se em Portugal há 10 anos, veio para estudar, por cá tem trabalhado e fez deste país o seu. A mulher e filhos tinham ido uns meses antes para Gaza, não prevendo a escalada grave que se seguiu, por necessidade de terapias específicas para um filho com necessidades especiais que em Portugal se tornavam incomportáveis enquanto aguardava em Portugal a reunificação familiar”, refere ainda a nota da campanha.
Quando a bebé chegou, foi internada no Hospital Santa Maria, “teve alta clínica duas semanas depois, mas não lhe foi atribuída alta social durante mais umas semanas devido à situação financeira grave” e ao facto de a casa onde o pai vivia nessa altura não possuir frigorífico, fogão ou máquina de lavar e ter uma divisão com o teto em risco de ruir.
O objetivo da campanha é obter dinheiro suficiente para que Ahmed possa “pagar a sua dívida de renda acumulada e arrendar uma outra casa que já possua condições de segurança em termos habitacionais até que se consiga reorganizar”, refere o texto de apresentação da campanha.
A situação financeira do pai já levou a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens a sinalizar a criança.
“Se Ahmed não conseguir resolver muito rapidamente a sua grave situação financeira e não travar o mais rapidamente possível a ação de despejo em tribunal, corre o risco de a qualquer momento ser despejado e a sua filha ir parar a uma instituição”, alerta o promotor.
“Sou um lutador, vou lutar”, disse à Lusa Ahmed.
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