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Quem mandou matar Jesus?

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 1 dia atrás em 14-04-2025

Durante séculos, a narrativa cristã dominante sugeriu que os judeus eram os principais responsáveis pela morte de Jesus Cristo. No entanto, uma análise histórica mais rigorosa e atual, apoiada por textos antigos e estudos contemporâneos, como o novo livro “Killing the Messiah” do historiador Nathanael Andrade, confirma de forma clara: foi o governador romano Pôncio Pilatos quem ordenou a crucificação.

Segundo os Evangelhos do Novo Testamento e o Credo Niceno, Jesus foi condenado à morte por Pilatos, que aplicou uma pena comum na época para quem era visto como uma ameaça à ordem pública: a crucificação. A pregação de Paulo, uma das primeiras vozes do cristianismo primitivo, também reconhece essa condenação.

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No entanto, ao longo dos últimos dois milénios, essa responsabilidade foi frequentemente desvalorizada ou até transferida para o povo judeu. Durante a Idade Média, essa visão alimentou episódios de antissemitismo violento, com a Páscoa a tornar-se, muitas vezes, um período particularmente perigoso para as comunidades judaicas na Europa.

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Mas por que razão os Evangelhos apresentam Pilatos como relutante e até convicto da inocência de Jesus? Historiadores explicam que os autores destes textos viviam numa época de crescente separação entre os primeiros cristãos e os outros judeus. À medida que o cristianismo se afirmava como religião distinta, e os seus seguidores enfrentavam perseguições no Império Romano, fazia sentido político e social amenizar a culpa das autoridades romanas e transferi-la para os judeus.

Apesar disso, o contexto histórico traça um retrato diferente. Pilatos era um representante do poder imperial, com autoridade para julgar e punir. A ideia de que ele teria cedido à pressão popular para condenar alguém que julgava inocente parece pouco plausível, considerando os riscos que isso representava para a sua posição e reputação junto das autoridades romanas.

É mais provável que Pilatos tenha visto em Jesus um agitador potencial, sobretudo numa época sensível como a Páscoa, quando Jerusalém se enchia de peregrinos e o risco de revoltas aumentava. Mesmo que Jesus não tenha participado em nenhuma insurreição armada, a sua crescente popularidade e críticas às elites religiosas poderiam ter sido interpretadas como ameaças à estabilidade.

Os textos antigos que surgiram após os Evangelhos chegam mesmo a ilibar Pilatos por completo, apontando para outras figuras, como Herodes Antipas, ou sugerindo que o próprio Pilatos se converteu ao cristianismo. No entanto, essas versões refletem mais as tensões teológicas e políticas da época do que os factos históricos, pode ler-se no ZAP.

Hoje, o consenso entre muitos historiadores é claro: a responsabilidade pela crucificação de Jesus pertence a Pôncio Pilatos, enquanto representante do poder romano. Reconhecer isso é essencial não só para compreender a história com maior fidelidade, mas também para desfazer preconceitos que atravessaram séculos e alimentaram o antissemitismo.

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