Opinião

Quem ignora o passado…

TORRES FARINHA | 11 anos atrás em 14-07-2013

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TORRES FARINHA

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O mundo actual ou, melhor ainda, o nosso pequeno mundo actual parece ser constituído por ciclos em que cada um procura fazer esquecer o passado para conseguir uma (pseudo) glória efémera que possa dar uma ilusória imagem de obra feita (ou nem por isso), como se não tivesse havido o dia de ontem. Se esse passado tiver deixado bem-estar, isto é, Activos relevantes, então o presente certamente estará a usufruir disso e, para muitos pseudo-lideres impõe-se fazer parecer que existe uma obra feita agora, milagrosamente, que proporcione uma glória à custa do trabalho de outros que, não obstante efémera, dará uma imagem de pseudo-heroismo no istmo de tempo que tal durar.

É esta visão que tem o umbigo com o horizonte que nos apontam em cada dia que passa e, se possível, embriagam, designadamente pela comunicação social, mesmo que para tal seja preciso destruir os construtores do passado, pois os interesses imediatos (e pessoais) são muito mais relevantes do que tudo o resto que realmente possa interessar da realidade factual.

Ora, quem “ignora o passado, caminha cego no futuro” pois “ignorar o passado é comprometer o futuro” e como o povo é sábio, vale a pena reflectir sobre as máximas populares que, em momentos como o que actualmente vivemos, devem ser ponderadas, quer sectorialmente quer a nível global.

Mas o sucesso do passado não garante o sucesso do futuro, pois construir o futuro é aprender com o passado, ser competente no presente e estabelecer um plano que possibilite, passo a passo, conduzir as organizações e as sociedades de forma a superar as dificuldades encontradas com sabedoria e conhecimento.

Segundo Sigmund Freud “[…], quanto  menos  um  homem  conhece  a  respeito  do passado  e  do  presente,  mais  inseguro  terá  de  mostrar-se  o seu  juízo  sobre  o  futuro.  E há ainda uma outra dificuldade, a de que precisamente num juízo desse tipo as expectativas subjectivas do indivíduo desempenham um papel difícil de avaliar, mostrando ser dependentes de factores puramente pessoais da sua própria experiência, do maior ou menor optimismo da sua atitude para com a vida, tal como a que lhe é ditada pelo seu temperamento ou pelo seu sucesso ou fracasso” – Significa isto que a mudança política pela mudança política em si não significa nada, pois não tem referências, não tem passado, o presente é o poder pelo poder e o futuro é o que o lobbie oportunista do momento ditar – foi este o ponto a que chegamos, o que dá importância aos cidadãos independentes motivados com um projecto de futuro.

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De facto, o aproveitamento oportunista do presente usualmente leva ao descalabro, ao fecho de ciclos que pareciam de sucesso, mas que os interesses cegos do imediato levam ao sugar dos recursos que, muitas vezes levaram muitos anos a construir.

Aliás, quantos dirigentes são transpostos para a comunicação social como personalidades de sucesso, apenas porque encontraram instituições, organizações prósperas e financeiramente folgadas e, enquanto esses recursos duram e permitem distribuir mordomias aos que traduzem essa imagem de sucesso, tudo corre como se essas entidades fossem as melhores do mundo; e quando essa herança acabar? Então há que mudar o dirigente para que o novo faça renascer a organização para vir a sanguessuga seguinte!

Segundo Albert Einstein “A distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente”; mas é uma ilusão que pode fazer a diferença entre o bem-estar e a angústia das pessoas, entre um rumo próspero e continuado e o aproveitamento oportunista político fruto dos lóbbies que dominam o momento político.

Filipe Correia de Sá, no seu romance Tala Mungongo diz que “trata bem do Passado, muito te ensinará. Trata-o mal também muito te ensinará. Aquele que o perde, aquele que o rouba, aquele que o empresta, aquele que não o limpa, aquele que não o respeita, muitas dores virá a sofrer.”

Nesta obra diz ainda que “[…] deves sempre guardar bem, tudo quanto te deixei, principalmente o Passado que não podes perder. Senão vais sofrer grandes tragédias. Nele não podes inclinar demais o teu coração, como também não o podes afastar demais. Fica só com o teu e deixa o dos outros que a eles pertence, só assim pode existir um que seja de toda a gente.” Quanto África tem para nos ensinar!

Assistimos ao aproveitamento pessoal e familiar das instituições, incluindo quase famílias inteiras, quase que a parecer que certos dirigentes, quais patrões frustrados, usurpam aquilo que é do colectivo e, contudo, passa mais um ciclo e tudo esquece! Quanta da sabedoria africana seria útil na prática das sociedades europeias e, em particular, da portuguesa.

Segundo Hobsbawm, “todo o ser humano tem consciência do passado […] em virtude de conviver com pessoas mais velhas. […] O passado é uma dimensão permanente da consciência humana, um componente inevitável das instituições, valores e outros padrões da sociedade humana. As pessoas não podem evitar a tentativa de antever o futuro mediante alguma forma de leitura do passado. Elas precisam fazer isso. […] E é claro que as pessoas o fazem com base na suposição justificada de que, em geral, o futuro está sistematicamente vinculado ao passado, que, por sua vez, não é uma concatenação arbitrária de circunstâncias e eventos”.

É importante acreditar que, de facto, o futuro é perspectivado tendo em consideração o passado, mas se o passado é feito dos ciclos oportunistas do presente, será que é credível acreditar num futuro com rumo, ou apenas no futuro imediato para delapidar o ainda existente no presente? Vale a pena pensar nisso.

TORRES FARINHA

Investigador

 

 

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