Queixas de populares, agradecimentos a operacionais que combateram o incêndio de Monchique e uma visita a um centro de acolhimento à população marcou hoje a deslocação a pé do primeiro-ministro, António Costa, na cidade algarvia.
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António Costa saiu da reunião com os autarcas dos concelhos do distrito de Faro (Monchique, Silves e Portimão) afetados pelo fogo, que foi hoje dado por dominado, uma semana depois de ter deflagrado em Monchique, e percorreu os cerca 500 metros entre a Câmara de Monchique e o centro de comando da Proteção Civil acompanhado por uma comitiva de ministros, secretários de Estado e jornalistas.
Pelo percurso através das estreitas ruas de Monchique, António Costa foi abordado por residentes do concelho, que se deslocaram até perto da Câmara para questionar o primeiro-ministro sobre o que consideram ter corrido mal no combate a este incêndio, sobretudo as instruções dadas à GNR para retirar as pessoas das zonas de risco, contrariando as populações que queriam ficar para proteger as suas propriedades.
“O senhor primeiro-ministro sabe dizer quem deu a ordem para a GNR algemar pessoas”, questionou um popular a António Costa durante o trajeto, contestando a forma de atuação da GNR perante as “pessoas que tinham tudo preparado e condições para defender as suas casas”.
António Costa respondeu que a GNR tinha ordens para retirar as pessoas das zonas de risco “por todos os meios possíveis” e voltou a salientar que o “importante era evitar vítimas mortais”.
“Se houvesse aqui 10 mortes, o Governo caia ou não caia, senhor primeiro-ministro”, perguntou ainda o popular, com a António Costa a responder que não sabia “se caia ou não” e a reiterar a importância de não ter havido mortes, num contacto que terminou com o popular a dizer que tinha “perdido a consideração que tinha” pelo primeiro-ministro e a este a responder que “tinha muita pena” que isso acontecesse.
Antes, António Costa já tinha garantido a um jovem que também o tinha confrontado que em todas as atuações de combate a incêndio é feita uma avaliação para “determinar o que correu bem e o que correu mal, para repetir o que correu bem e melhorar o que correu menos bem”.
O primeiro-ministro fez a seguir o curto trajeto entre o quartel de bombeiros e o posto de Comando da Proteção Civil, onde à chegada era esperado pela 2.ª Comandante Operacional Nacional da Autoridade Nacional de Proteção Civil, Patrícia Gaspar, que assumiu o comando da operação na terça-feira, e o Comandante Distrital de Operações de Socorro de Faro, Vítor Vaz Pinto, que tinha coordenado as operações até esse dia.
António Costa cumprimentou os dois comandantes da Proteção Civil e questionou-os sobre o trabalho realizado durante o dia e as condições que se esperavam para as próximas horas.
“Ainda houve uns reacendimentos durante a tarde, para nos manter atentos e focados, mas a situação já é mais calma”, disse Patrícia Gaspar, com Vaz Pinto a confirmar que ainda haverá “muitos dias de trabalho pela frente para consolidar” a extinção e fazer o rescaldo, porque o “perímetro é muito grande”.
O presidente da Câmara de Monchique disse hoje que o incêndio que deflagrou no concelho na última semana é “uma oportunidade de reorganização” da floresta e defendeu um “quadro de desburocratização” para a implementação de um “plano estratégico forte”.
“Esta reunião foi bastante produtiva (…). Espero que se possa continuar este trabalho de articulação entre todos os organismos porque será importante definir um plano estratégico forte, porque esta oportunidade tem que ser aproveitada como uma janela de oportunidade para reorganizarmos a floresta e corrigir uma série de erros do passado”, afirmou Rui André, depois de o primeiro-ministro ter anunciado medidas de apoio na sequência do incêndio no concelho algarvia.
O autarca falava aos jornalistas após uma reunião com António Costa, outros elementos do Governo e entidades da região do Algarve, depois de ser anunciado que Rui André vai coordenar um “programa de reordenamento económico” da Serra de Monchique.
No encontro participaram os presidentes de câmara de Monchique e de Portimão, um vereador em representação da presidente de Silves, bem como os ministros Adjunto, Pedro Siza Vieira, da Administração Interna, Eduardo Cabrita, e os secretários de Estado do Desenvolvimento e Coesão, do Turismo, da Habitação, da Agricultura e Alimentação, e das Florestas e do Desenvolvimento Rural.
No final do encontro, que se prolongou por quase três horas, o autarca de Monchique sublinhou a importância de um “consórcio” entre todas as entidades envolvidas na recuperação do concelho, bem como criação de “um quadro de desburocratização” na implementação de medidas.
“Houve abertura por parte do primeiro-ministro e dos membros do Governo para criarmos uma medida de exceção, para podermos implementar um projeto inovador e que seja um exemplo”, revelou, quando questionado sobre que resposta tinha obtido por parte do Governo.