Opinião

Quanto de nós morre com Celeste Caeiro?

OPINIÃO | PEDRO SANTOS | 1 hora atrás em 16-11-2024

Morreu a mulher graças a quem o 25 de Abril é a Revolução dos Cravos. O dia inicial (d)escrito por Sophia continuaria a ser inteiro e limpo, mas sem Celeste Caeiro não teria havido cravos nas pontas das espingardas, para nos explicar sem palavras toda a beleza daquela data.

Mas quanto de nós morre com Celeste Caeiro? Certamente, desaparece o exemplo de resiliência que fez questão de desfilar de cadeira de rodas na Avenida da Liberdade há alguns meses. Ou a capacidade de nos comover ao vê-la contar que chorava sempre que se recordava daquele dia de 1974, como tantos de nós.

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E perdemos também mais um pouco da utopia de uma sociedade liberta de classes e verdadeiramente igualitária. Da metáfora de um povo capaz de ser herói inesperado do seu próprio destino. Coisas que podemos questionar se ainda restam meio século depois, é certo, quando pelo menos 50 deputados à Assembleia da República rasgam as vestes perante as conquistas de Abril. Quando persistem desigualdades inaceitáveis e a voz do povo é frequentemente abafada por interesses económicos. Quando não há dia em que direitos arduamente conquistados não sejam postos em causa.

Animemo-nos, porém, perante a lembrança de que Celeste Caeiro permanece símbolo de um tempo em que a esperança era mais forte e que a luta pela democracia e pela justiça social é um processo constante. A chama de uma revolução não se apaga enquanto ela viver em cada ato de resistência, em cada grito por igualdade. A luta continua, mesmo quando os cravos murcham. Sobretudo quando os cravos murcham.

Sejamos capazes de homenagear a memória de Celeste Caeiro, reafirmando o compromisso com os valores que ela sempre fez questão de defender. Que a sua vida seja uma inspiração e o seu legado nos motive a lutar por um país onde os sonhos de Abril se tornem realidade.

Honrar esse legado é, aliás uma obrigação para quem acredita que o futuro continua, como sempre esteve, nas mãos do povo. Transformar grilhões em cravos pode não ser fácil, pode nem estar ao alcance de qualquer um, mas é possível para todos.

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