Coimbra

Quando a revolução em que “tudo correu bem” podia ter corrido mal.  MFA conta como foi o golpe

Notícias de Coimbra | 7 meses atrás em 24-04-2024

Os militares do Posto de Comando do MFA recordaram o que poderia ter corrido mal no golpe e como foram os ‘padeiros’ da Escola Prática de Administração Militar, no Lumiar, a atravessar a rua e ocupar a RTP.

O momento mais tenso foi com uma fragata frente ao Terreiro do Paço

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Depois de tomada a decisão quanto ao golpe vieram “as dúvidas” e a preocupação com o que poderia acontecer.

Com as tropas na rua e o golpe militar em curso, Almada Contreiras, o contacto na Marinha dos capitães no Posto de Comando da Pontinha, intercetou a comunicação que deu início a um dos momentos mais tensos da revolução.

“Nós intercetávamos as comunicações todas e, portanto, soubemos que foi dada ordem à fragata para ir para o Terreiro do Paço. Então estava a receber ordem para metralhar as unidades que estavam no Terreiro do Paço, inclusivamente o Salgueiro Maia. E nós, como soubemos isso, demos ordem a uma bateria de artilharia nossa”, recordou Garcia dos Santos.

“Que estava no Cristo Rei”, completou Vítor Crespo.

Depois de dada a ordem à bateria de artilharia para apontar à fragata, Vítor Crespo ameaçou o comandante da fragata: “Vocês, ao primeiro tiro que dispararem, vão para o fundo”.

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Fragata ao fundo? Era pouco provável…

O objetivo inicial da bateria de artilharia era terrestre: apontar ao Monsanto, para onde se previa retirar os membros do Governo. Nenhum dos capitães acreditava na capacidade dos artilheiros em acertar no alvo fundeado no Tejo.

“Eu acredito que a bateria de artilharia não conseguisse atingir a fragata, mas foi uma manobra de recurso. […] A bateria estava preparada para atingir alvos terrestres. […] mas quais eram os recursos que nós tínhamos?”, questionou Otelo.

E nem a lei da gravidade lhes era favorável.

“Como estavam lá no alto, as peças de artilharia, e tinham que apontar para baixo, corriam o risco de a munição saltar”, explicou Garcia dos Santos.

“A granada não sai retilínea, sai curva”, precisou Otelo Saraiva de Carvalho.

Evitar o desastre no Terreiro do Paço

O Movimento das Forças Armadas (MFA) tinha núcleos de oficiais em todas as unidades da Marinha, que, não sendo comandantes de navios, eram “fundamentais na estrutura de comando”.

Na ‘Gago Coutinho’ foi o imediato, em conjunto com outros oficiais, que, sob orientações recebidas da Pontinha, impediu que se cumprissem as ordens para a fragata disparar sobre o Terreiro do Paço.

“Não estaria tudo perdido”, e “não quer dizer que não se ganhasse à mesma”, mas “teria sido terrível” para os objetivos da revolução se a fragata tivesse feito fogo, declarou Vítor Crespo.

“Aquela fragata a disparar para o Terreiro do Paço era o desastre das forças que estivessem no Terreiro do Paço, porque era de grande eficiência. Muito perto do alvo, e com uma cadência de tiro preparada para fogo antiaéreo, mas também podia fazer fogo para os carros e, portanto, de grande eficácia militar”, considerou.

“Mas pronto, felizmente essas coisas não aconteceram”, disse Sanches Osório.

Os ‘padeiros’ tomaram a RTP

Quando Otelo decidiu que eram os militares da Escola Prática de Administração Militar, no Lumiar, em Lisboa, que também eram conhecidos como ‘padeiros’, que iam tomar a RTP, nem todos os oficiais concordaram com a ideia.

“Então os ‘padeiros’ é que vão tomar a televisão?”, criticaram alguns, pondo em causa a capacidade operacional de militares da Escola Prática de Administração Militar onde se formavam os cozinheiros e administrativos, pouco habituados a lidar com armas.

Otelo não tinha dúvidas: “Vão, sim senhor! Estão ali quase em frente.” Era só atravessar a estrada, o quartel era a 100 metros dos estúdios da RTP.

Foi o capitão Teófilo Bento a comandar a coluna, “tomaram a televisão em dois tempos, foi o primeiro objetivo a ser conquistado”.

“Eles limitaram-se a sair do portão, marcharam, foram em coluna, até à televisão, desarmaram os polícias e tomaram aquilo, encantados da vida. Impecavelmente”

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