O secretário-geral do PCP avisa que o PS está a ir no sentido contrário à rutura que o seu partido exige para um acordo pós-eleitoral à esquerda, considerando que o seu programa não responde aos problemas da maioria.
O programa eleitoral do PS “não vai de certeza absoluta no sentido da rutura, não vai no sentido de responder aos grandes problemas que estão colocados para a maioria do nosso povo”, adverte Paulo Raimundo em entrevista à agência Lusa no âmbito das eleições legislativas de 18 de maio.
O dirigente do PCP considera que o programa do PS tem “muitas proclamações, muitas frases bem escritas, bonitas, elaboradas”, mas, no concreto, não tem grandes diferenças em relação ao do PSD.
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“Talvez o exemplo mais ilustrativo é que a diferença entre o PS e o PSD no salário mínimo nacional é de 10 euros em 2029. Nós precisamos de aumentar os salários agora, que é agora que é preciso pagar as rendas, as prestações, enfrentar o aumento do custo de vida. Sei lá o que é que vai acontecer em 2029”, afirmou, numa referência ao facto de a AD propor o aumento do salário mínimo para os 1.100 euros em 2029 e o PS para 1.110.
O PCP, no seu programa eleitoral, defende a fixação do salário mínimo nos 1.000 euros já em julho, o aumento das pensões em 5%, com um mínimo de 70 euros, alocar 1% do PIB para habitação pública, valorizar as carreiras no SNS e criar uma rede pública de creches.
Questionado sobre que medidas vê como linhas vermelhas e prioritárias para um acordo à esquerda após as eleições, Raimundo responde que são todas as que apontou, além do fim do “escândalo de baixa do IRC para as grandes empresas”.
“Isto não é um problema de linhas vermelhas. Isto é um problema de se há ou não um programa para responder aos problemas das pessoas”, afirma Raimundo, reforçando que, para o seu partido, a linha vermelha vai ser “se há ou não há resposta à maioria do povo português, da juventude e daqueles que trabalham e trabalharam uma vida inteira”.
“Essa é a nossa linha vermelha. A partir do momento em que há resposta, estamos disponíveis para tudo e consideramos – temos essa ousadia – que temos um programa que responde a essas necessidades. Era bom que outros viessem ao nosso programa”, disse.
Interrogado se o PCP não está então disponível para nenhuma cedência no seu programa mesmo caso não venha a ser a força principal à esquerda, Raimundo responde que a história mostra que o seu partido nunca falhou a “nenhuma medida” em prol da melhoria das condições de vida da maioria.
O secretário-geral do PCP recua aos tempos da ‘geringonça’ para salientar que, entre 2015 e 2019, foi por proposta do seu partido que se acabou com o Pagamento Especial por Conta (PEC) para as micro, pequenas e médias empresas, que o valor do passe de transportes públicos foi reduzido ou que se começou a avançar com a gratuitidade das creches.
“A maior diferença é que nós conseguimos fazer isso quando tínhamos 17 deputados: 15 do PCP e dois do PEV. Não será fácil atingir esses valores nesta batalha, mas há uma coisa que tenho a certeza: é que nada disso é possível com menos força ao PCP e à CDU”, referiu.
Depois de, nas últimas legislativas, o PCP ter obtido quatro deputados, Raimundo considerou que “qualquer voto a mais e mais um deputado” seria “sempre um contributo” para combater a política de direita, mas não quis fixar nenhuma meta eleitoral.
Caso a AD volte a ganhar as legislativas, Raimundo considerou que isso representaria “a continuação e o acelerar do processo contrarrevolucionário”, numa altura em que se celebram os 51 anos do 25 de Abril, acusando a coligação PSD/CDS de querer “pôr as mãos no dinheiro da Segurança Social”, alterar a legislação laboral e continuar com “um projeto de aceleração e desmantelamento do SNS”.
Se esse cenário se verificar, Raimundo afirma que o papel do PCP vai ser “resistir, mobilizar e travar”.
“De preferência, no primeiro minuto”, conclui
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