Portugal
Protesto contra obra na Linha do Norte na Aguda
Obra do século XIX, obstáculo social e interesses económicos foram argumentos utilizados pelas 100 pessoas que protestaram hoje na Aguda contra a obra da Infraestruturas de Portugal (IP) no troço de Vila Nova de Gaia da Linha do Norte.
Em causa está a empreitada de renovação da Linha do Norte – subtroço 3.3 – Ovar/Gaia – que abrange cerca de 14 quilómetros de linha e 13 passagens desniveladas, das quais 10 são passagens inferiores e apenas três são passagens superiores pedonais (na Estação da Granja, no Apeadeiro da Aguda e nas Moutadas).
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Leo Caves, cidadão britânico, compareceu no protesto de bicicleta e, à Lusa, explicou a sua indignação, afirmando que vive a 500 metros do apeadeiro e que todos os dias atravessa a linha nos seus passeios. Indignado, apontou para a passagem superior construída e desabafou: “isto é uma solução do século XIX”.
“É curioso como o Governo português estimula a compra de bicicletas e, ao mesmo tempo, faça obras destas”, continuou.
Mário Mendes, arquiteto e também residente perto do apeadeiro, acrescentou críticas à obra a cargo da empresa pública IP, argumentando que “a solução aplicada vai piorar em todos os aspetos a vida das pessoas”, a começar pela “segurança porque os elevadores vão ter ainda menos segurança que uma passagem subterrânea”.
“Argumentar o contrário é uma falácia, porque os elevadores são muito piores pois qualquer indivíduo pode ali assaltar um idoso”, avisou.
Ainda sobre a passagem superior, o arquiteto afirmou que “a cota a vencer para passar as catenárias é muito superior do que se a opção for uma passagem subterrânea, que não precisa de mais do que três ou quatro metros, enquanto na catenária são 10 metros. Além disso, a instalação dos elevadores implica custos elevadíssimos e as avarias irão ser uma constante”.
“Invocar o nível freático é absolutamente ridículo, as bombas que poderiam funcionar relativamente ao nível freático também existem nas passagens para automóveis e o custo do funcionamento delas seria muito inferior ao da manutenção e de energia gasta”, prosseguiu.
Sobre os muros de seis metros que estão a ser montados ao longo da linha, Mário Mendes optaria por “um guarda nas passagens de nível”, uma solução” muito menos dispendiosa”.
“Há interesses económicos que são notórios e que depois vão acarretar mais despesas porque as coisas vão funcionar mal e obrigar a procurar mais soluções. Isto não é forma de gerir a IP”, protestou.
Ao lado, Isabel Barros fez outra queixa, assegurando que está a ser construído “um separador social”.
“As pessoas usam muito esta ligação, mesmo as mais velhas. Avançar com isto vai arrasar a vida de quem sai para ir às compras, à farmácia, de quem cruza a linha para ir ao mar”, enfatizou a também moradora na Aguda.
Porta-voz do grupo “Amigos da Aguda”, Ivo Pinhal explicou à Lusa que a queixa apresentada no Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto, anunciada na sexta-feira, é “para tentar encontrar uma solução que se adeque à urbanização paisagística das duas localidades”.
“Embargar a obra é difícil, a menos que tenhamos o apoio da Câmara de Vila Nova de Gaia e da Junta de Freguesia [de Arcozelo]. O que nós pedimos é que nos ouçam, porque não conseguimos um canal de comunicação fixo e coerente com a câmara e com a junta”, disse.
Por seu lado, Vasco Sousa, do movimento “Granja Cidadãos” testemunhou “estar iminente a construção na Granja de uma passagem superior” e que a Câmara de Gaia, na sexta-feira, “plantou árvores antes dos muros, alguns deles com seis metros de altura”.
“Não diria que haja evidência de um canal de comunicação construtivo ou que isto seja uma solução temporária, mas que caminhemos para soluções definitivas que passem por colocar passagens inferiores e muros e barreiras acústicas de muitos menor dimensão, de um metro, como em muitas cidades europeias”, respondeu o porta-voz quando questionado se na última semana havia encontrado sinais positivos para a luta que estão a fazer.
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