As duas principais estruturas sindicais que representam os professores consideram injustos os ‘rankings’ das escolas, feitos anualmente pela comunicação social com base em dados oficiais, por compararem o incomparável.
“Estamos a comparar o incomparável”, resumiu em declarações à agência Lusa o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), reforçando as críticas às listagens elaboradas há duas décadas a partir de dados solicitados ao Ministério da Educação sobre os resultados dos alunos nos exames nacionais e notas internas.
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Em reação aos últimos rankings, divulgados hoje com base nas informações referentes ao ano passado, Mário Nogueira foi perentório ao classificá-los como “uma injustiça tremenda”, sobretudo considerando o contexto de pandemia de covid-19.
“Estamos a sair de dois anos com confinamentos, um ano em que se supunha que já era de recuperação, mas foi muito semelhante aos anteriores”, recordou, questionando como se podem comparar desempenhos entre escolas “se vivemos um período em que, reconhecidamente, se cavaram as desigualdades”.
Para Mário Nogueira, a comparação é sobretudo injusta entre estabelecimentos de ensino públicos e privados, com realidades diferentes e alunos provenientes de contextos socioeconómicos por vezes muito distintos. Mas não só.
“É de uma injustiça tremenda mesmo entre escolas públicas compará-las e, sobretudo, a forma como são apresentados”, disse em referência às classificações de melhores e piores estabelecimentos de ensino, afirmando ainda que as listagens “acabam por criar estigmas sobre determinadas escolas”.
Opinião semelhante é a de João Dias da Silva, secretário-geral da outra principal estrutura sindical que representa os docentes.
No entender do líder da Federação Nacional da Educação (FNE), os ‘rankings’ não refletem o trabalho das escolas e ignoram um conjunto de fatores determinantes no desempenho dos alunos.
“Não sou capaz de colocar um ‘ranking’ em que ponho ao mesmo nível peras, maçãs e laranjas. São coisas diferentes, são realidades diferentes que não permitem estabelecer uma hierarquia entre elas”, afirmou, considerando que não constituem, sequer, um fator de melhoria da qualidade das escolas.
João Dias da Silva não põe em causa a disponibilização desses dados por parte do Ministério da Educação, mas defende que “com base nisso não é possível elaborar ‘rankings’. Já Mário Nogueira coloca o ónus do lado da tutela.
“É sempre fácil dizer que discordamos de uma coisa e depois criar condições para que se faça”, disse o secretário-geral da Fenprof, que pediu coragem ao ministro João Costa e desafiou-o a deixar de fornecer aos órgãos de comunicação as informações que dão origem aos ‘rankings’, reconhecendo que possivelmente seria “devorado” por isso.
Em reação à queda das notas nos exames em quase todas as disciplinas, com destaque pela negativa para Física e Química em que a média ficou abaixo dos 10 valores em 2021, Mário Nogueira considerou que é um reflexo dos efeitos da pandemia.
“Não podemos passar um ano todo a dizer que há défices de aprendizagem, há desigualdades a dispararem e depois surpreendermo-nos com as notas”, referiu, afirmando que no ano passado foi recuperada alguma normalidade nas provas, mas não nas aprendizagens.