Coimbra
Professor de Coimbra diz que “Último Caderno de Lanzarote” abre com luta de Saramago contra o vento
O professor universitário Carlos Reis salientou hoje que José Saramago começa o “Último Caderno de Lanzarote” com uma ventania e a luta do escritor, enquanto homem, contra a inclemência do tempo.
Como leitor da obra do escritor ribatejano, Carlos Reis, coordenador do congresso internacional “José Saramago: 20 anos com o Prémio Nobel”, que decorre em Coimbra até quarta-feira, descreveu “o trânsito pelas páginas de um relato diarístico que continua a reger-se pela mesma divisa que está inscrita no início da viagem encetada por Saramago em 1993”, com a publicação do primeiro desses cadernos: “Contar os dias pelos dedos e encontrar a mão cheia”.
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“Que dias foram esses e como foram eles?”, perguntou, na apresentação do lançamento do sexto e último volume dos diários do autor de “Levantados do chão”, em Coimbra.
Para Carlos Reis, “muito ficou” neste livro – em cuja apresentação interveio Pilar del Río, viúva de Saramago e presidente da Fundação José Saramago – “desse ano de 1998, que ocupa este volume”.
O coordenador do congresso dividiu a obra em “duas etapas distintas, antes de 08 de outubro e depois de 08 de outubro” de 1998, data em que foi anunciado o Prémio Nobel da Literatura.
“É bem significativo que o ‘Último Caderno de Lanzarote’ comece por uma ventania – não há ilha que se preze sem uma boa ventania – e pela luta do homem Saramago contra ela”, enfatizou o açoriano Carlos Reis, natural da ilha Terceira.
Depois, a ilha de Lanzarote, no arquipélago espanhol das Canárias, “fica em pano de fundo, discretamente cumprindo a sua função de lugar de acolhimento que, um dia, o escritor procurou e encontrou”, disse.
“Tal como o ditou o frenético ritmo daquelas vivências” do Nobel português, em 1998, após a Academia Sueca ter revelado ser ele o vencedor do prémio desse ano, “os dias da segunda etapa muitas vezes limitam-se a anotações, para posterior desenvolvimento” que nunca chegou a concretizar-se.
No entanto, “é de Lanzarote e da sua paisagem árida de vulcões extintos que José Saramago olha o mundo” e também “é lá que compõe a sua ficção, escreve para jornais e revistas, dá entrevistas, recebe amigos, convive com gentes da ilha e também com outras criaturas”: Pepe, Greta e Camões.
“Todos os nomes de cães que os têm mais nítidos e motivados do que muitas personagens ‘saramaguianas’”, acrescentou.
As prosas diarísticas de Saramago, “e o que delas ficou nas páginas deste ‘Último Caderno’, são antecipação, umas vezes, outras, ensaio, e outras ainda, regresso a temas que estruturam a visão do mundo do escritor”, afirmou Carlos Reis, numa sessão em que participou Paulo Gonçalves, da Porto Editora.
Pilar del Río, por sua vez, recordou que o labor do marido na redação daquela obra acabou por ser “completamente alterado por causa” da atribuição do Prémio Nobel, há 20 anos.
José Saramago “não acabou de corrigir aquilo que estava escrito”, já que aproveitou “a responsabilidade” dada pela visibilidade do Prémio Nobel para participar em diferentes eventos cívicos, culturais e educativos, em Portugal e um pouco por todo o mundo, afirmou.
A acompanhar o “Último Caderno de Lanzarote”, a Porto Editora lançou também o livro “Um País Levantado em Alegria”, em que o jornalista brasileiro Ricardo Viel relata “detalhes e surpresas de como Saramago e o país viveram” a atribuição do Nobel ao escritor português, em 1998.
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