Coimbra
Professor de Coimbra desenvolve instrumento para avaliar literacia em saúde mental em adolescentes
Um professor da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC) construiu o primeiro instrumento específico para avaliação da literacia em saúde mental em adolescentes.
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MentaHLiS (Mental Health Literacy Scale) é o nome desta nova escala, produzida pelo docente e investigador Amorim Gabriel Santos Rosa e que, a partir de agora, pode ser utilizada como medida de rastreio da literacia, mas também, em estudos longitudinais, como medida de avaliação do impacto das intervenções de Enfermagem ao nível da promoção da saúde mental dos adolescentes.
A Mental Health Literacy Scale foi construída no âmbito de um estudo de doutoramento, realizado entre 2013 e 2017, no qual participaram 757 adolescentes (estudantes de estabelecimentos do 2º e 3º ciclos do ensino básico e do ensino secundário) e cuja tese o docente da ESEnfC defendeu, no início deste mês, no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto.
«Até à realização deste estudo, não existiam em Portugal instrumentos específicos para avaliar a literacia em saúde mental em adolescentes, criados de raiz com esse objetivo e adaptado à nossa especificidade cultural», afirma o professor Amorim Rosa.
De acordo com o investigador, «os instrumentos que têm sido utilizados nos escassos estudos realizados em Portugal, após serem sujeitos a processos de adaptação e validação para a nossa população, além de não serem específicos para adolescentes, pela sua dimensão, são difíceis de utilizar, dificultando a adesão aos estudos e comprometendo a respetiva validade».
A MentaHLiS traz, pois, consigo a vantagem de ser «de fácil aplicação, tanto no contexto escolar, como no contexto da prática clínica», sublinha o professor da ESEnfC.
Por outro lado, «ao avaliar unicamente os componentes mais relevantes para a intervenção de Enfermagem no âmbito da promoção da saúde», a nova escala de avaliação «revela-se simples de aplicar, exigindo apenas alguns minutos para o seu preenchimento», nota ainda Amorim Rosa.
Pode ser, prossegue o professor da ESEnfC, «um instrumento importante para melhorar o conhecimento sobre as questões da saúde mental e contribuir positivamente para a redução do estigma, a procura de ajuda profissional e para o aumento do número de adolescentes a receber tratamento no futuro».
O professor Amorim Rosa considera que «avaliar a literacia em saúde mental nos adolescentes é um aspeto fundamental para a conceção e implementação de programas de educação e sensibilização para a saúde mental, especificamente no contexto escolar, dada a elevada prevalência de perturbações mentais neste grupo específico, e a necessidade de intervenções ajustadas».
«Apesar de todo o esforço» ao nível da promoção da saúde mental e da literacia dos adolescentes, «sobretudo nos últimos dez anos, como forma de dar cumprimento aos objetivos, valores e áreas de ação estratégica do Plano Nacional de Saúde Mental 2007-2016, os resultados em termos de literacia em saúde mental estão ainda muito aquém do desejável», observa o investigador Amorim Rosa.
«A adolescência é uma fase crítica para o início das perturbações mentais. As estimativas mais recentes apontam para que uma em cada cinco crianças e adolescentes venham a ter problemas de saúde mental com expressão antes dos 18 anos de idade, implicando diminuição da qualidade de vida e aumento do consumo de cuidados de saúde. Contudo, na maioria das situações, os adolescentes não recebem a ajuda adequada ou recebem-na com muito atraso, já numa fase muito avançada de doença, estando este fator associado, sobretudo, a défices de literacia em saúde mental», explica o docente da ESEnfC.
Os resultados obtidos através da aplicação da MentaHLiS junto da amostra de 757 adolescentes envolvidos no processo de construção e validação do instrumento revelam, como «situação mais preocupante», a «baixa capacidade de reconhecimento da depressão», assim como «as significativas dificuldades evidenciadas ao nível dos comportamentos de procura de ajuda e primeira ajuda em saúde mental».
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