Crimes
Presidente da Montepio nega ter recebido dinheiro de construtor civil
O presidente da Associação Mutualista Montepio, Tomás Correia, considera que os processos judiciais que o envolvem não têm fundamento, garantindo que nunca deu créditos de favor e não recebeu 1,5 milhões de euros do construtor José Guilherme.
“Não tenho grandes dúvidas que aquilo não tem o mínimo de fundamento adequado para resultar em algo que me penalize a mim e às pessoas visadas. Tenho uma grande tranquilidade”, disse Tomás Correia, em entrevista à agência Lusa, sobre investigações do Banco de Portugal sem querer referir-se concretamente às acusações de que é alvo.
Nos últimos anos, foi noticiado o envolvimento do presidente da Associação Mutualista Montepio Geral em processos em investigação na Justiça e em análise no Banco de Portugal por eventuais irregularidades no Montepio.
Segundo a imprensa, é investigado no Banco de Portugal por financiamento ao Grupo Espírito Santo e ao filho de José Guilherme pela não introdução dos procedimentos necessários ao controlo de movimentos financeiros ilícitos.
É ainda suspeito de ter recebido 1,5 milhões de euros do construtor civil José Guilherme (o mesmo que deu 14 milhões a Ricardo Salgado, ex-presidente do BES).
Sobre esta acusação, Tomás Correia disse estar “tranquilo, sem nenhuma preocupação”, e negou ter recebido 1,5 milhões do construtor: “Não recebi, não”.
Acrescentou ainda que os financiamentos feitos a José Guilherme correram sempre bem: “Não tenho informação de que alguma coisa, no quadro das relações com esse cliente, tenham corrido mal do ponto de vista do cumprimento”.
Sobre o financiamento à Rio Forte, empresa do Grupo Espírito Santo, Tomás Correia disse que o “Montepio foi a única instituição bancária que recebeu a totalidade do crédito”, já no âmbito da liquidação daquela empresa no Tribunal do Luxemburgo, o que considera que prova que fizeram “as coisas bem”.
Questionado sobre as acusações de que enquanto presidente da Caixa Económica Montepio Geral deu créditos de favor, com garantias pouco sólidas e que se revelaram prejudiciais para o grupo, Tomás Correia negou.
“Eu nunca fiz créditos de favor na Caixa Económica, sempre respeitei o modelo de governo ao nível da origem dos créditos. Tenho dúvida de que algum dia algum departamento, responsável de departamento, diretor, possa dizer que eu interferi no sentido de alguma operação ser encaminhada desta ou determinada maneira. Trabalho na banca há muitos anos e sei que quando o presidente ou administrador se interessa por uma operação é porque tem alguns condimentos que a levam a que corra mal”, afirmou.
O que pode acontecer é “correrem mal” créditos que pareciam bom negócio, justificou, argumentando que a banca é uma atividade de risco.
Sobre a compra do Finibanco em 2010, por 341 milhões de euros, que críticos de Tomás Correia no Montepio dizem ter sido feita acima do preço que valia, o presidente da mutualista voltou a defender o negócio considerando que o preço foi adequado e que a compra daquele banco serviu para a Caixa Económica se preparar para as dificuldades que advieram, uma vez que até então estava demasiado concentrada no negócio imobiliário e diversificou para maior apoio financeiro às empresas.
“Alterou a estrutura de balanço da CEMG e hoje percebe-se perfeitamente que, em 2012 e 2013, se o Montepio não tivesse comprado o Finibanco tinha um produto bancário negativo, porque tinha margem financeira negativa e as comissões não chegavam para cobrir”, afirmou.
Sobre se o negócio não serviu para beneficiar alguns interesses, de empresas a pessoas individuais que tinham interesse em vender Finibanco e encaixar dinheiro, afirmou que o “preço foi justo face às condições de mercado em 2010”.
“Não podemos tentar reescrever a história. Não tenho dúvida de que a história tinha sido diferente e para pior se não tivéssemos feito essa operação”, vincou.
Tomás Correia disse ainda que não houve financiamentos para José Guilherme ou outras pessoas da sua família comprarem parte das 200 milhões de Unidades de Participação do Fundo de Participação Caixa Económica Montepio Geral e que o Montepio “não precisava dessa subscrição para fazer a emissão com êxito”.
O presidente da mutualista viu ainda o seu nome envolvido em outro processo, desta vez relacionado com a venda dos terrenos das Colinas de Vale Meão, em Coimbra, mas no final de 2017 o tribunal de Viseu decidiu não levar a julgamento os 14 arguidos do processo justificando a decisão de não pronúncia de qualquer um dos arguidos com o facto de não existirem “indícios da verificação dos crimes” de burla e de insolvência dolosa.
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