Coimbra

Prémio Literário Fundação Inês de Castro: Livro de Djaimilia Pereira de Almeida desafia a ativo exercício de interpretação

Notícias de Coimbra | 6 anos atrás em 31-03-2019

O romance ‘Luanda, Lisboa, Paraíso’, de Djaimilia Pereira de Almeida, Prémio Literário Fundação Inês de Castro, “desafia o leitor para um ativo exercício de interpretação”, disse hoje, em Coimbra, Isabel Pires de Lima, porta-voz do júri do prémio.

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O segundo romance de Djaimilia Pereira de Almeida “gera polissemia, não dá soluções unilineares, desafia o leitor para um ativo exercício de interpretação, comprometendo-o”, sustentou Isabel Pires de Lima, durante a sessão de entrega do Prémio Fundação Inês de Castro 2018 (12ª edição) à escritora, em Coimbra.

Com ‘Luanda, Lisboa, Paraíso’ – livro “corajoso e belo” –, Djaimilia criou um romance que se destaca no “panorama da produção literária portuguesa contemporânea pela originalidade com que aborda a temática imperiosa e de grande complexidade das identidades pós-coloniais e suas reconfigurações”, sublinhou Isabel Pires de Lima.

Uma abordagem, salientou ainda a professora universitária e porta-voz do júri do Prémio, que não descura “o tratamento poético da linguagem”, nem evita “a densidade metafórica própria da obra de arte”.

“Luanda, Lisboa, Paraíso” conta a história de Cartola de Sousa, parteiro num hospital em Luanda, e Aquiles, seu filho de 14 anos, nascido com um calcanhar defeituoso, que viajam para Lisboa, nos anos de 1980, para que o rapaz possa ser tratado ao pé. Para trás deixam Glória, mãe de Aquiles, doente e imobilizada na cama, entregue aos cuidados da filha, Justina, irmã de Aquiles.

O título do livro traça o percurso feito por pai e filho, nessa viagem que começou cheia de sonhos, esperança e ilusões, de uma Lisboa mágica que os receberia como portugueses, mas que acabou por ser uma viagem sem regresso, pelos caminhos que conduzem à miséria humana: de Luanda, viajam para Lisboa, onde vivem numa pensão durante os tratamentos ao pé de Aquiles, e acabam a viver no Paraíso, um bairro da lata na margem sul do Tejo.

Apesar de visitar “realidades individuais e sociais extremamente duras e violentas”, é “um romance de forte dimensão lírica”, que cria “uma atmosfera intensamente poética para dizer um mundo rude ou dizer mundos dominados pela rudeza e fazê-la habitada por personagens que não se desumanizam”, destacou Isabel Pires de Lima.

‘Luanda, Lisboa, Paraíso’ visita “um cenário candente na vida portuguesa que ainda não teve muitas declinações ficcionais entre nós”, acrescentou a antiga ministra da Cultura, reportando-se às vivências dos movimentos migratórias dos últimos 40 anos, relacionadas, tanto com as “ondas migratórias provenientes das ex-colónias”, como, a partir da década de 1990, a imigração oriunda do chamado leste europeu, da China e do Brasil.

Esta história – ‘Luanda, Lisboa, Paraíso’ – “é de muitas pessoas, é comum a muitas pessoas, ainda não estava contada”e importava contá-la, disse à agência Lusa, à margem da sessão Djaimilia Pereira de Almeida, que não a escreveu a pensar em distinções, embora este prémio lhe tenha dado muita “satisfação” e “alegria” e provocado uma “enorme surpresa”.

Na sessão, também foi entregue o prémio Tributo de Consagração Fundação Inês de Castro 2018 (que visa distinguir a carreira de um autor), atribuído por unanimidade ao tradutor, poeta e divulgador da cultura hispânica em Portugal José Bento.

Ausente por motivos de saúde, o distinguido foi representado por José Carlos Seabra Pereira (que presidiu ao júri), tendo Pedro Mexia (igualmente membro do júri) falado sobre a carreira e a obra de José Bento.

“Muitos autores existem na nossa vida por causa dos tradutores”, destacou Pedro Mexia, enumerando vários casos em que isso acontece, desde Paulo Quintela (em relação à literatura alemã), por exemplo, a José Bento.

Mas, talvez “por ser muito conhecido como tradutor”, José Bento é “pouco conhecido como poeta”, lamentou, por outro lado Pedro Mexia, considerando que “os prémios de consagração são “muitas vezes de revelação” ou seja, concluiu, “somos uma cultura desatenta”.

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