Opinião

Preço da existência 

Notícias de Coimbra | 3 meses atrás em 01-06-2024

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Em algum momento fomos revolucionários. Atualmente, o meu bom senso de responsabilidade diz que não preciso participar em mais nenhuma revolução que afete o meu contentamento de estar em liberdade e de poder usufruí-la. Muitas coisas estão remediadas, e são o suficiente para a satisfação de muita gente. O ser humano é complexo. Alguns querem ver os destroços do Titanic, e outros querem viver em Marte; talvez sejam os mesmos que não questionam a existência de um Deus.

Aliás, os excêntricos somos nós, que vivem à margem dessa sociedade engajada em ostentar privilégios, como se fosse possível acreditar que quando separo o lixo na minha casa para a reciclagem, estou a salvar o planeta. Seja qual for a sua redenção, a utopia é poder morar e comer bem, sem o fantasma de que estamos a ofender os que vivem em profunda miséria e morrem de fome, mas sem esquecê-los.

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Excêntricos, ainda, somos nós, porque queremos viver com um salário bom, ter garantias, férias, ler o horóscopo e jogar na lotaria diariamente com a capacidade emocional de acreditar que somos felizes, simplesmente, porque não sabemos viver de outra maneira sem interferir na agenda-setting (onde as audiências não só são informadas sobre assuntos de interesse público, mas também são condicionadas sobre o grau de importância que devem atribuir a um assunto, pela visibilidade que os media conferem-lhe).

Alguém já questionou a liberdade? Nem todo o mundo quer dispensar o conforto da sua rotina por “dias melhores” e desconhecidos.

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Conheço pessoas que pensam e não falam o que pensam, mas, agem diferente daquilo em que acreditam para manter a aparência de condescenderem à maioria. 

Estão todos cheios de boas intenções e sem temer o futuro, onde muitos não estarão nos livros de História. Tenho a memória de que algumas vezes lutamos contra aquilo que temíamos ser, ou, que lutávamos contra a verdade, porque já éramos o que temíamos. Se é visível um ângulo de esperança, é ali que devemos concentrar as nossas forças, embora, mitigadas pelo excesso de racionalidade. 

Estou convencida de que a moral está em desuso e que as prioridades são contrárias ao senso de responsabilidade. Talvez isso comprova que o acumular riqueza subverta o que ainda há de humano na face da terra. A concentração de poder está a esmagar o que ainda temos de bom: a dignidade. Parece que o que menos importa é saber se está do lado certo da História. 

OPINIÃO | ANGEL MACHADO – JORNALISTA

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