Centenas de milhares de residentes em Los Angeles (LA) compareceram nos abrigos e centros de doações para fazer voluntariado e há vários portugueses entre eles, que têm passado a última semana a ajudar vítimas do fogo.
“É impressionante a operação que está lá”, disse à agência Lusa o português Artur Castro, que vive em Los Angeles há quatro anos e está a liderar uma equipa de ajuda no YMCA de Brentwood, na zona de Santa Mónica.
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“Está super bem organizada”, referiu.
O espaço está transformado num centro de doações e chega a receber 400 pessoas necessitadas por dia. Artur Castro está a voluntariar-se no centro há cinco dias consecutivos das 08H00 da manhã às 20h00 da noite, aproveitando o facto de ter um trabalho flexível que lhe permite ligar-se remotamente e em diferentes horários.
“Uma coisa interessante é que só 5% a 10% das pessoas foram diretamente impactadas pelo fogo e perderam a casa”, notou o português.
“Ou seja, a esmagadora maioria das pessoas são imigrantes, latinos. Muitos deles foram indiretamente impactados no sentido em que perderam o trabalho, ou são mesmo pessoas pobres”, relatou o voluntário, frisando: “E isso foi algo que me bateu nos primeiros dois dias, não parava de pensar naquilo”.
O centro já tem roupa em excesso mas continua a precisar de produtos de higiene, que são dos mais requisitados.
Nos últimos dias, Artur Castro assistiu ao contraste do que o fogo levou: apareceu uma senhora a precisar de bens que conduzia um Maseratti, a única coisa que sobreviveu ao incêndio, e outra que levava uma mala da Gucci.
Artur Castro mostrou-se muito surpreendido pela onda de solidariedade que se levantou na última semana, numa cidade que muitas vezes é criticada como superficial e demasiado individualista.
“Não esperava que na comunidade de LA houvesse este tipo de apoio e união”, afirmou.
“As pessoas que eu conheço, tanto do lado a trabalhar como do lado de lá são incríveis. Para mim, isso era contraintuitivo”, admitiu.
Também o português Francisco Cavaco, que trabalha na área financeira de uma empresa de semicondutores em LA, notou a incrível quantidade de voluntários que estão a aparecer nos centros de doações.
“Era mesmo tanta gente para ajudar que não era necessário”, disse à Lusa, falando da sua experiência no centro de Pasadena, que dá auxílio às vítimas do fogo em Altadena.
“Havia gente a mais”, relatou.
Francisco Cavaco tirou o dia para se voluntariar com amigos e também percebeu que no centro havia mais pessoas com necessidades permanentes que pessoas afetadas pelo fogo. Além de ajudar com tarefas como carregar águas e gerir doações, o português fez parte de uma equipa de limpeza em Altadena, encarregada de limpar detritos em áreas ardidas para começar a recuperação.
“Vimos casas ardidas, outras em que o jardim ardeu todo até à porta”, contou.
“Nalgumas os donos estavam ainda a regarem tudo, com medo que o fogo voltasse”, destacou ainda.
Com a ajuda de um camião que transportava o lixo recolhido pela equipa, Francisco Cavaco observou as sortes diferentes das casas na comunidade.
“Havia casas intactas e outras todas destruídas, e eu fiquei a pensar, como é que é possível?”, afirmou.
“O que me pareceu foi que alguns conseguiram molhar à volta das casas, e houve um que tinha árvores Redwood, aquelas que são melhores para os incêndios, e se calhar isso ajudou também a parar o fogo”, prosseguiu.
Francisco Cavaco pretende agora tirar uma certificação que os bombeiros oferecem a civis e que lhe permitirá ajudar de forma mais próxima, considerando que o voluntariado é gratificante e mostra uma face diferente de Los Angeles.
“O que me surpreendeu foi mesmo a quantidade de voluntários, que era coisa que eu não estava à espera, de voluntários e de doações”, reiterou.
Referindo que Los Angeles é uma cidade “de muita gente” que está sozinha, porque não tem cá família, ressaltou que a solidariedade é uma característica comum: “A cultura americana é muito assim, gostam de ajudar”.
Outros portugueses em LA, como Rita Figueiredo, também estão a preparar-se para tirar algum tempo fora do trabalho e participar nas operações de ajuda.
Os incêndios que começaram a 07 de janeiro causaram pelo menos 24 mortos e consumiram mais de 12 mil edifícios. Ainda não estão totalmente contidos.
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