Portugal
Porto 2001 foi cultura mas também muitas obras, milhões e derrapagens
Oito equipamentos culturais novos ou renovados, centenas de espetáculos, 44 milhões de euros investidos no espaço público e orçamentos ultrapassados, chegando ao triplo no caso da emblemática Casa da Música, marcaram o Porto 2001 – Capital Europeia da Cultura.
Quando passaram quase duas décadas sobre o evento, talvez as lembranças mais fortes da Capital Europeia da Cultura sejam os números difíceis de contabilizar e uma cidade em rebuliço, com eventos e buracos de obras aparentemente intermináveis, que se prolongaram para lá de 2001.
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Em 2004, uma auditoria do Tribunal de Contas concluiu que o orçamento da sociedade Porto 2001 foi ultrapassado em quase todas as áreas: em 5,3 milhões de euros na programação, 4,6 milhões nos equipamentos culturais e 12,4 milhões nas obras transferidas do programa Polis.
Dos 226 milhões de euros de que a Porto 2001 dispôs, mais de 44 milhões foram aplicados na renovação da Baixa da cidade.
O valor da reabilitação urbana ficou 12 milhões de euros abaixo do previsto porque mais de metade dos planos ficaram na gaveta – só foram realizadas obras em sete dos 15 lotes e um deles apenas ficou concluído em 2002.
A obra emblemática do Porto 2001, a Casa da Música, do arquiteto holandês Rem Koolhaas, só ficou pronta em 2005 e custou cerca de 100 milhões de euros, o triplo do orçamentado em 1999, correspondendo a uma derrapagem financeira de 228%.
Mais do que um projeto arquitetónico, a Casa da Música representa hoje um projeto cultural para a cidade e no início de janeiro já tinha ultrapassado os sete milhões de visitantes.
Em 1998, na apresentação da Capital da Cultura, a verba prevista para a programação/organização, ainda contabilizada em escudos, era de 40 milhões de euros, 30 milhões dos quais para “eventos de caráter efémero”.
Quanto às infraestruturas, o orçamento apresentado era de 175 milhões de euros, ao passo que se prometiam 458 eventos e mais de mil exibições.
Em 2004, num artigo de opinião no jornal Público, Teresa Lago, presidente da sociedade Porto 2001, referia que “a programação envolveu quase 2.000 sessões/eventos e mais de um milhão de espetadores”.
Certo é que a cidade acabou 2001 como começou: com obras polémicas, ruas renovadas entremeadas com outras de aspeto degradado e sem uma única linha contínua de carris de elétricos que possibilitasse o anunciado regresso deste meio de transporte ao centro da cidade.
Por razões quase sempre imputadas à Câmara do Porto e aos comerciantes, não foram realizadas pela Porto 2001, entre outras, obras nas praças da Liberdade, Carlos Alberto e Filipa de Lencastre, nas ruas em redor do Hospital de Santo António e parte das ruas Passos Manuel e do Almada.
Um dos projetos que ficou a meio foi o do “Caminhos do Romântico”, após o abandono da ideia de construir uma ponte pedonal sobre a Rua D. Pedro V e o Vale de Massarelos.
Em 2013, o Tribunal da Relação do Porto, que confirmou a sentença de primeira instância, condenou o Estado a pagar cerca de três milhões de euros de indemnização a comerciantes da baixa que se sentiram prejudicados pelas obras da Capital da Cultura.
A Porto 2001 deixou na cidade oito equipamentos culturais novos ou renovados: além da Casa da Música, destacam-se o Museu Soares dos Reis, Cadeia da Relação, Mosteiro de S. Bento da Vitória, Biblioteca Almeida Garrett, Teatro Carlos Alberto e Casa da Animação.
As obras realizadas na Cadeia da Relação permitiram instalar o Centro Português de Fotografia, existente desde 1997 para “assegurar uma política nacional para a fotografia”.
Além do Porto, em 2001, Portugal já recebeu a Capital Europeia da Cultura em mais duas ocasiões: Lisboa, em 1994, e Guimarães, em 2012.
Portugal acolhe novamente em 2027, juntamente com uma cidade da Letónia, a distinção de Capital Europeia da Cultura.
Aveiro, Leiria, Faro, Viana do Castelo, Coimbra, Évora, Braga, Guarda e Oeiras já anunciaram que vão apresentar uma candidatura.
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