Coimbra
Plantas do estuário do Mondego têm “grande capacidade” de fixar carbono
Três plantas do estuário do Mondego têm “grande capacidade” de acumular carbono e duas contribuem para uma taxa de sedimentação que deverá acompanhar uma eventual subida do nível do mar, revelou hoje um investigador da Universidade de Coimbra (UC).
O biólogo Thiago Couto, do Instituto do Mar da UC, falava hoje à agência Lusa, a propósito da sua participação no ciclo de palestras “Quintas do Mar”, promovido pelo Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no qual vai dissertar, na quinta-feira, às 13:30, sobre a acumulação de carbono no sapal do estuário do rio Mondego, na Figueira da Foz.
No trabalho que realizou no âmbito da elaboração da sua tese de doutoramento, que em breve vai defender, Thiago Couto pretendeu “comparar mudanças sazonais e funções associadas aos diferentes mecanismos fotossintéticos de três espécies de plantas” do sapal: ‘Scirpus maritimus’, ‘Spartina maritima’ e ‘Zostera noltii’.
“Num cenário de aumento de temperatura, deverá esperar-se um aumento da biomassa do caule e foliar em relação à observada com a temperatura atual”, afirma o investigador brasileiro.
Na sua opinião, a taxa de sedimentação das extensões de ‘Spartina maritima’ e ‘Zostera noltii’ “será, previsivelmente, capaz de acompanhar a subida do nível do mar, não sendo expectável” que o mesmo se verifique em relação à área coberta por ‘Scirpus maritimus’.
Ao longo de 21 meses, Thiago Couto estudou a fixação de carbono no sapal do Mondego, tanto nas plantas como nos sedimentos, tendo concluído o trabalho em 2012.
Face ao aquecimento global, as zonas costeiras pantanosas, designadamente o sapal e o mangal, este nos países tropicais, poderão contribuir “para mitigar o efeito estufa e diminuir a temperatura”, pela sua capacidade de acumulação de carbono.
O biólogo alerta, por isso, para a necessidade de preservar estes ecossistemas da orla marítima.
Se o nível médio dos oceanos continuar a subir (cerca de 0,9 centímetros por ano, segundo dados oficiais), a taxa de sedimentação nas zonas ocupadas por algumas plantas poderá acompanhará essa tendência.
É o caso do sapal da Figueira da Foz, onde a ‘Spartina maritima’ e a ‘Zostera noltii’ revelam essa capacidade, testada por Thiago Couto nas atuais condições do estuário.
No entanto, as barreiras que o homem vai construindo, como obras agrícolas, rodovias, diques e urbanização em geral, ditarão a morte dos sapais, que não poderão expandir-se à medida que o nível do mar sobe.
“Com essas barreiras, o sapal acaba”, adverte o investigador.
As zonas húmidas costeiras, como os sapais, “são excelentes acumuladores de carbono, pois retiram CO2 da atmosfera”, que se acumula nos tecidos das plantas.
“As três espécies juntas ocupam aproximadamente 50% da área de sapal no estuário do Mondego, o que corresponde a 29,77 hectares”, refere Thiago Couto.
Em 21 meses, essas plantas acumularam 24 toneladas de carbono, segundo as conclusões do estudo.
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