Educação
Pesca local tem diversidade de capturas e alto valor comercial
A pesca artesanal local na costa Centro/Norte portuguesa apresenta uma grande diversidade de capturas, com 65 espécies de peixe e marisco, as principais com alto valor comercial, revelou um estudo da Universidade de Coimbra (UC).
O projeto ArtFish, que decorreu durante os últimos dois anos na costa atlântica entre a Nazaré e Viana do Castelo, avaliou espécies capturadas por embarcações de pesca local, que representam quase 80% da frota pesqueira nacional, envolvem um grande número de pescadores e possuem relevância ambiental, socioeconómica e cultural.
A pesca local recorre a embarcações até cerca de nove metros, que operam no mar e em águas interiores, como as embocaduras de rios, recorrendo a redes de emalhar (colocadas à superfície, suspensas por várias boias) e de tresmalho (junto ao fundo).
Segundo os dados hoje revelados à agência Lusa, as principais espécies de peixe capturadas nos cinco portos avaliados pelo ArtFish – Castelo do Neiva e Viana do Castelo (no mesmo município), Angeiras (Matosinhos), Figueira da Foz e Nazaré – incluem a faneca, o sargo, o robalo e a dourada, mas também a salema, congro, raia zimbreira, língua, juliana ou peixe porco.
O sargo e o robalo são, segundo o estudo, as únicas duas espécies presentes nas capturas efetuadas em todos os cinco locais avaliados, embora com quantidades diferentes: em Viana do Castelo, o sargo é a espécie mais pescada (representa cerca de 40% do total), seguida do robalo com quase 25%.
Já na Figueira da Foz, a primazia é dividida entre o sargo e a salema (cada uma com cerca de 30% do total), enquanto em Angeiras ‘reina’ a faneca, representando metade das capturas ali efetuadas.
O estudo, que incidiu sobre um total de 24 toneladas de pescado capturado nos cinco portos nos últimos dois anos, aponta uma redução da quantidade entre 2020 e 2021, quer por embarcação, quer por dia de pesca.
Na Figueira da Foz, onde o ArtFish registou as maiores quantidades pescadas, ao longo de 2020, o total chegou quase aos 6.000 quilos por embarcação, valor que caiu para pouco mais de 4.000 este ano. O mesmo sucedeu nas quantidades por dia de pesca, que caíram dos 125 para os 115 quilos.
À agência Lusa, Filipe Martinho, do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra e um dos investigadores do ArtFish, explicou que os dados do projeto incidem “só sobre a utilização de redes de tresmalho e emalhar e muitos deles [os pescadores] têm também licenças para pescar polvo”, o que também fizeram.
“Estiveram muito tempo ao polvo, com estes dados parece que pescaram menos, mas é só uma utilização menor destas redes”, observou.
Para além da diversidade de espécies, as conclusões do ArtFish apontam uma atividade pesqueira entre a primavera e o outono, com “baixa incidência de capturas acessórias e de indivíduos subdimensionados”, principais espécies capturadas “de elevado valor comercial”, destacando ainda o “contacto direto” entre os investigadores universitários e os pescadores e associações de pesca, promovendo “a transferência de conhecimento” entre ambas as partes.
Sobre a baixa captura de pescado subdimensionado, Filipe Martinho notou que os pescadores que colaboraram com o ArtFish “têm todos a perceção que têm de deixar as espécies crescer”.
“Mas isso também tem um bocado a ver com as malhas [das redes] que usam, que já são relativamente grandes. Os juvenis passam e eles não os apanham”, explicou.
Sobre os ganhos de um projeto como o ArtFish, o investigador do Centro de Ecologia Funcional da UC apontou o “conhecimento mais detalhado” sobre a pesca local e a “boa relação de confiança” que a ciência e os pescadores.
“Conseguimos aprender de parte a parte. Os pescadores ficam a saber o que a ciência tem para lhes transmitir, mas os investigadores ganham conhecimento da prática da pesca e ficamos todos a ganhar”, afirmou Filipe Martinho.
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