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Penela: Fernando Silva fica cego aos 14 anos, mas não baixa os braços. Toca concertina e torna-se artesão

Há mais de 40 anos que Fernando Silva ficou cego devido a um tumor na cabeça. Para ocupar o tempo livre, decidiu aprender a tocar concertina e tornar-se artesão.
Quem visitar o Mercadinho junto ao Pavilhão Multiusos de Penela, tem hipótese de conhecer o trabalho de Fernando Silva. Sentado num banco, e com o apoio da esposa, lá vai entrelaçando os fios sintéticos nos bancos de pequenas dimensões para vender ao público.
Azul e vermelho são apenas algumas das cores usadas naquelas estruturas que adquire a um especialista no fabrico de madeiras do concelho de Penela.
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Apesar de só expor estes bancos naquele mercado, possivelmente a pensar no público-alvo deste evento natalício, o artesão está disponível para decorar cadeiras, cadeirões e mesas com uma de três opções: fio sintético, polietileno ou, até mesmo, sisal.
No telemóvel, tem imagens de um cadeirão com um metro de comprimento que fez a pedido de um cliente. Apesar de ser mais difícil de trabalhar, o fio sintético é o melhor, já que “não deforma” com o uso.
“O sisal, quando apanha água e sol, começa logo a deformar e a ficar feio”, disse. A arte de decorar estas estruturas de madeira foi ensinada por uma assistente social que vinha a Penela, numa altura em que também teve de aprender “braille”.
Algo que, reconheceu, lhe custou mais a aprender do que a fazer estes tampos decorativos em fio entrelaçado.
Morador em Viavai – lugar a 10 quilómetros do centro da vila -, é desta forma que ocupa uma parte do seu tempo livre. A outra é um “amor” que herdou do pai: tocar concertina.
“Aprendi a tocar com o meu pai quando era miúdo”, disse. Inicialmente, usava a concertina do pai, mas depois vendo que o filho tinha jeito decidiu trazer-lhe um instrumento adaptado à sua altura.
Ao fim de ano e meio, e sem que tivesse recorrido a qualquer professor, começou a mostrar alguma destreza no manuseamento da concertina, o que levou o pai a adquirir outro instrumento.
É então que, aos 14 anos, um cancro na cabeça lhe tira a visão por completo. Pouco tempo depois, ainda veio para uma escola de cegos em Coimbra, mas só esteve “semana e meia” naquelas instalações, tendo decidido regressar novamente a casa dos pais.
Interessado em tocar “mais e melhor” a sua concertina, o pai, emigrante no Luxemburgo, descobriu em Alvaiázere o professor Luís Moutinho. Um senhor reformado que veio do Alentejo e que melhorou a sua performance, de tal forma que já fez milhares de quilómetros com o amigo David a mostrar a sua arte.
“Ele é os meus olhos em cada viagem”, lembrou. Os interessados em adquirir as cadeiras feitas pelo artesão Fernando Silva ou contratar este músico, pode fazê-lo para o telefone da rede fixa 236 621 481 ou para o telemóvel 913 606 316.
Veja o Direto NDC com Fernando Silva
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