Coimbra
Pedrógão Grande pode ser exemplo de tratamento de queimados
A Associação Amigos dos Queimados (AAQ) afirmou hoje que o tratamento após alta hospitalar das vítimas do grande incêndio de Pedrógão Grande pode ser um exemplo de boas práticas que deveria ser aplicado a todas as pessoas que sofreram queimaduras.
“Em Pedrógão Grande, há os Médicos do Mundo, há equipas comunitárias [de saúde mental]. Na maior parte dos casos, é zero. Pedrógão Grande pode ser um bom exemplo de boas práticas” que deveria ser aplicado a todos os casos em Portugal de pessoas vítimas de queimadura, seja de feridos de outros incêndios ou de um homem que caiu na lareira na semana passada, frisou hoje o presidente da AAQ, Celso Cruzeiro.
O cirurgião falava aos jornalistas durante a conferência de imprensa de apresentação do XI Congresso Nacional dos Queimados, que vai decorrer no fim de semana, em Pedrógão Pequeno (Sertã), intitulado “Renascer, Um Ano Depois”.
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Celso Cruzeiro realçou que o que se passa em Pedrógão Grande – seja o acompanhamento psicológico dos feridos seja a comparticipação para tratamentos – é “uma discriminação positiva, mas não deixa de ser uma discriminação”.
Um dos principais fármacos usados por vítimas de queimaduras no tratamento posterior à alta são cremes – “dos mais caros que existem” – e não há “um cêntimo de comparticipação”, sendo que o Governo abriu uma exceção para as vítimas dos incêndios de Pedrógão Grande, realçou Carlos Canais, também da direção da AAQ.
“Vemos tudo o que é oferecido às vítimas de Pedrógão Grande e depois pensamos no senhor que se queimou na semana passada. Esquecemo-nos de todos os outros queimados”, notou.
Para o presidente da associação, Celso Cruzeiro, é necessário garantir o estatuto de doente crónico aos queimados, que, assim que saem do hospital, “perdem todos os apoios que têm”, havendo grandes lacunas na reinserção laboral, social e familiar do ferido.
“A pessoa está curada, sai do hospital e o Serviço Nacional de Saúde fica feliz. Mas começou uma história completamente diferente da sua vida, com necessidade de medicamentos sucessivos, apoio psicológico, internamentos vários e prolongados e intervenções cirúrgicas. E isso é para toda a vida. Para nós, o queimado deve ser inserido” na classificação de doente crónico, por forma a garantir apoios nas consultas, transporte e outros benefícios, defendeu.
No âmbito do congresso, a associação pretende também criar o Dia Nacional do Queimado, a 17 de junho, dia do grande incêndio de Pedrógão Grande, referiu Celso Cruzeiro.
Durante o congresso que se realiza este fim de semana, a associação vai também abordar os direitos que os doentes têm – que muitas vezes não têm consciência dos mecanismos a que podem ter acesso -, bem como a necessidade de haver uma unidade pediátrica de queimados.
O evento vai contar com a presença do diretor do Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais, Xavier Viegas, do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e de membros do Governo, assim como a participação de vítimas de queimaduras que vão relatar as dificuldades que tiveram na sua reintegração.
“Isto mexe com a nossa identidade. Tem que se aceitar, ganhar autoestima e esse é um processo que não acontece de um dia para o outro. O médico diz que está bom para ir trabalhar, mas psicologicamente a pessoa não está bem”, alertou Diana Afonso, também membro da direção da associação.
O XI Congresso Nacional de Queimados, que se realiza no fim de semana, assinala o incêndio ocorrido há um ano em Pedrógão Grande, mas quer também debater a reinserção e futuro das vítimas queimadas.
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